Se a vida são dois dias, o carnaval são três, e três vezes dez são trinta, nesta lista conta-se pelo menos um mês inteiro de folia.
Nos calendários religiosos, o carnaval marca um período de bonança antes da austeridade da quaresma. Tendo-se espalhado um pouco por todo o mundo, misturaram-se mitologias, tradições locais e até se mudaram as datas.
Mas no geral, em qualquer lado em que se celebre, o carnaval é um tempo de sair à rua, dançar e conviver. Fica a conhecer alguns do mais populares, peculiares e animados carnavais do mundo.
NOTA: Para promover uma certa variedade (caso contrário só os vários Carnavais do Brasil ocupariam facilmente mais de metade da lista), optámos por limitar as escolhas a, no máximo, duas opções por país 😊
Antes de sairmos à rua, um pouco de história. Antes da tradição cristã do carnaval já existiam, nessa mesma época do ano, festivais pagãos que assinalavam o fim do inverno.
Na Roma e Grécia antiga celebrava-se a Saturnália e a Antestérias, mas também nas culturas do norte de Europa já existiam festivais para receber a primavera.
Estes festivais eram já marcados pelo relaxar das regras e hierarquias sociais. E assim continuou nos tempos cristãos, com camponeses a passarem-se por príncipes, homens disfarçados de donzelas e outras “transgressões” à ordem social.
Com o colonialismo europeu, a transgressão do carnaval ganhou um novo significado. Escravos e indígenas aproveitavam estes dias para reafirmar a sua cultura perseguida.
Muitos destes elementos persistem ainda hoje. Cada carnaval, numa paródia das regras sociais, criou o seu pequeno mundo de personagens, hierarquias e terminologia.
Se queres descobrir o que acontece durante o J’Ouvert em Trinidad e Tobago, a que é que se referem os habitantes de Nova Orleães quando falam das krewes, ou quem é a Seine Tollität do carnaval de Colónia, continua a ler este artigo.
Começamos logo pelo incontornável carnaval do Rio. Aqui, o ano é passado a preparar o próximo carnaval – afinal este é mesmo considerado o maior do mundo. É impossível descrever aqui tudo que se passa no carnaval do Rio, por isso aqui vai a versão resumida.
A imagem mais difundida do carnaval carioca é o sambódromo, o recinto onde competem as escolas de samba, cada uma com o seu enredo – um tema ou história que serve de mote ao samba, às coreografias, disfarces e carros alegóricos. A competição tem as suas regras e até um sistema de ligas, com subidas e descidas de divisão.
Depois há os blocos, grupos que desfilam pela cidade, e que de forma mais ou menos estruturadas seguem um determinado tema ou se identificam com o mesmo disfarce.
Quer seja por mão das escolas, dos blocos ou dos bailes de bairro, o carnaval espalha-se pelo Rio de Janeiro – com as primeiras festas já a começarem no primeiro mês do ano.
As máscaras do carnaval de Veneza tornaram-se um símbolo da cidade e são uma das lembranças mais vendidas na cidade, qualquer que seja a estação. Bastante elaboradas, estas máscaras popularizaram-se graças ao interesse da nobreza local pelo carnaval.
Por altura do século XVIII, o carnaval já atraia visitantes à cidade, mas depois das invasões napoleónicas a festa acabaria por ser proibida, e só em 1979 é que voltou em força.
O carnaval de Veneza começa com o voo do anjo. Ao meio-dia em ponto do primeiro domingo de carnaval, um acrobata disfarçado de anjo salta da torre de San Marco para aterrar no centro da praça.
Seguem-se as paradas sobre a água, com gôndolas e outras embarcações de decoradas a rigor com papel-machê, conduzidas por remadores também eles trajados.
A atmosfera de carnaval da cidade fica completa com os bailes de máscaras, apesar que para estes é preciso abrir os cordões à bolsa, entre o bilhete e o aluguer do disfarce.
Segundo o calendário católico, a terça-feira gorda era o último dia em que os devotos podiam comer e beber à vontade, antes da dieta sem carne da imposta durante a quaresma. Mardi gras é o nome francês deste dia.
Tendo Nova Orleães sido a capital das colónias francesas no que é hoje os Estados Unidos, ficou o carnaval conhecido nesta cidade como Mardi Gras. Aqui a época de carnaval começa logo no dia de Reis, 6 de Janeiro, sendo que os desfiles começam algumas semanas antes da terça-feira gorda propriamente dita.
As paradas estão à responsabilidade das Krewes, grupos de membros associados, que pagam quotas para ajudar a financiar os carros alegóricos e disfarces. Algumas dessas têm já uma longa história, tais como a Rex e a Zulu, que desfile na terça-feira.
Cada krewe tem o seu roteiro pela cidade. Dos seus carros alegóricos lançam-se os souvenirs da parada, incluído os colares de contas que se tornaram um símbolo do Mardi Gras.
Apesar de o carnaval ser bastante popular em todos os países de língua alemã, dentro destes é em Colónia que a festa é celebrada com mais pujança.
O carnaval de Colónia – ou Kölner Karneval – vai da quinta-feira gorda à quarta-feira de cinzas, sendo o ponto máximo das festividades a Rosenmontag, ou segunda-feira de rosas. Durante estes dias, a cidade transforma-se numa grande e amigável festa, onde locais e turistas confraternizam com o mesmo à vontade.
O desfile principal é organizado por um comité criado em 1823. À cabeça vai um triunvirato constituído pelo príncipe cujo titulo oficial é “Seine Tollität”, ou Sua Alteza Louca, a figura mais importante do Carnaval local, e também por uma donzela, tradicionalmente interpretada por um homem, e um camponês.
A tradição manda também que se atirem doces dos carros alegóricos, conhecidos como Kamelle, e é por isso que a primeira fila do desfile é sempre reservada às crianças.
Mas para além deste desfile existem inúmeras festas independentes, desde bailes de gala a festas de rua. O carnaval de Colónia tem até o seu estilo próprio de música, com várias bandas que se dedicam exclusivamente a este género.
Não podíamos ficar por mencionar apenas um carnaval brasileiro. Comparado com o do Rio, o carnaval de Salvador tem uma raiz mais popular.
Uma das características do carnaval da Baía são os trios elétricos, camiões com instalação sonora que levam a música e a dança ao longo da cidade. O primeiro trio elétrico foi um humilde carro com uma guitarra ligada à bateria, invenção de Dodô e Osmar, uma dupla local. Hoje, os trios elétricos chegam a ter uma potência de 200.000 watts.
No topo destes trios tocam alguns dos mais conhecidos artistas do axê – uma junção de vários géneros musicais, do reggae aos ritmos do candomblé – é a música mais tocada. Como cantava Caetano Veloso, “atrás do trio elétrico só não vai quem já morreu”.
Entretanto, Dodô e Osmar ainda hoje dão o nome a dois dos três circuitos por onde descem os blocos de carnaval de Salvador. No terceiro, o circuito Batatinha, os foliões vão encontrar um carnaval mais tradicional, com bailes de máscaras e expressões da cultura afro-brasileira locais como os blocos de afoxés.
Datas: Último domingo e segunda-feira de Agosto
O defeito do carnaval na Europa é que muitas vezes acontece quando o tempo ainda é de chuva e frio, deixando todos com inveja dos carnavais da América do Sul. Mas em Notting Hill, Londres, a questão foi resolvida com ao passar o carnaval para agosto.
Na verdade este é um carnaval caribenho, onde em vários países a festa já é assinalada em agosto. A primeira edição, em 1959, foi, em parte, uma resposta da comunidade das Caraíbas aos ataques com motivação racial que sofreram durante esse ano.
Neste carnaval escuta-se principalmente o calipso, um género musical de Trinidad que em muito influenciou o ska e o reggae. Os trajes usados na parada devem também muito à cultura das Caraíbas, mas já com uma forte influência do carnaval do Rio de Janeiro.
Fora da parada principal há performances e há muita comida, incluindo as especialidades da comunidade caribenha, do roti ao jerk chicken,
O carnaval da cidade de Oruro preserva em si símbolos e crenças com vários séculos. Resistindo às proibições do colonialismo espanhol, os povos indígenas trouxeram para as celebrações católicas as suas próprias personagens e histórias – e uma das melhores representações desta mistura é o carnaval.
A importância do carnaval na preservação destas crenças já valeu reconhecimento da Unesco. Infelizmente, esta mitologia é demasiado rica e com demasiadas variações para a podermos explicar aqui, por isso referimos aqui apenas duas figuras centrais.
Pachamama, a mãe-Terra, e Tio Supay, uma personagem malévola. De uma forma complexa, estas divindades indígenas encontram o seu paralelo nas figuras católicas da Virgem Maria e do Diabo.
Cerca de 28.000 bailarinos e 10.000 músicos tomam parte nesta celebração. Os trajes folclóricos. O desfile principal impressiona pela perseverança, já que pode durar até 20 horas, em que se contam duas histórias, a da conquista espanhola e a da eterna luta entre bem e o mal.
Durante estes dias ocorrem várias bailes, o mais conhecido sendo La Diablada. Aí os dançarinos assumem a personagem do diabo graças às elaboradíssimas máscaras produzidas por artesões locais.
A sul de Bruxelas, a cidade de Binche deve a sua fama em grande parte ao carnaval local, que se preserva desde a época medieval.
As festas começam no domingo que precede a quarta-feira de cinzas, com a saída à rua das Mam’selles, homens vestidos em exuberantes vestidos femininos.
Mas é na terça-feira gorda que se revelam as personagens principais do carnaval de Binche, os Gilles. Em coloridos fatos, máscaras de cera e chapéus enfeitados de penas de avestruz, os Gilles desfilam pela cidade a atirar laranjas a quem assiste à parada.
No encalço dos Gilles seguem outras personagens como arlequins, camponeses e papagaios. A festa termina com os Gilles a dançar a luz do fogo de artificio. Ser um Gille é uma grande honra para os homens locais, que acabam por gastar somas consideráveis nos seus fatos.
O carnaval ao estilo caribenho é tão singular e amado pela comunidade que já se propagou pelo mundo, como é o caso do já mencionado Carnaval de Notting Hill, mas também da Caribana, em Toronto. Os carnavais desta região mereciam sua própria lista, mas neste artigo ficamo-nos pelo carnaval de Porto de Espanha, em Trinidad e Tobago.
Há mesmo muito a acontecer no carnaval trindadense. Começas pelas “bandas Mas”, que são grupos carnavalescos a que qualquer se pode juntar, pagando uma inscrição e vestindo o traje do grupo – mas atenção, alguns destes trajes são bem reveladores.
Ao som do calyspo e da soca (soul + calypso), dança-se dia e noite nas “fetes”. Há fetes de todo o género, das mais amigas dos turistas às de “má fama”, onde as danças sem podem tornar bem íntimas.
Para quem não tem medo de se sujar há o J’Ouvert. A tradição dita que cada um acorde bem cedo para se cubrir de lama, tinta ou qualquer outra substância à mão. A festa segue durante todo o dia e toda a noite com bandas de soca a tocar.
O carnaval de Porto de Espanha é ainda palco da maior competição do mundo de tambores de aço, um instrumento fundamental para os ritmos da ilha.
Não podíamos deixar de mencionar Portugal, mas também não podíamos escolher um carnaval em particular, para que ninguém se sinta excluído.
Começamos por mencionar o de Torres Vedras, que os locais gostam de chamar o mais português de Portugal. Matrafonas, cabeçudos e Zés-pereiras juntam-se ao cortejo pelas ruas da cidade.
Se o de Torres Vedras é o mais português, talvez se possa de dizer que o de Ovar é o mais brasileiro. Desde 1989 que o concelho conta com seis escolas de samba. Em 2019, este carnaval atraia já 100.000 visitantes. Também em Sesimbra e Estarreja se nota a forte influência brasileira.
Há ainda as tradições das pequenas aldeias, onde as coisas ficam realmente peculiares. Em Podence, Macedo de Cavaleiros, saem à rua os caretos, com as suas máscaras diabólicas a correr atrás das raparigas. Menos coloridos e conhecidos são os caretos de Lazarim, Viseu. A complexidade das máscaras é o que atrai visitantes a esta pequena aldeia de 500 habitantes durante o carnaval.
Na Madeira, pensa-se que o carnaval tenha origem nas plantações de cana-de-açúcar no século XVI. E isso explica em parte porque é que este carnaval tem um doce tradicional – as malassadas.
E para não deixar os Açores de fora, fechamos com os bailinhos da ilha Terceira. Dança, teatro popular e sátira sobem aos muitos palcos que se espalham pela ilha por ocasião do Entrudo.
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