Arábia Saudita – O progresso é imparável 🇸🇦

  • 25.01.2023 20:10
  • Bruno A.

Mais uma semana de ensinamentos para o nosso editor por terras Sauditas. Contra todas as expectativas, o país está num processo de modernização estrutural e social que já não poderá ser travado. Mas o que é que isso significa para a cultura local? E para os muitos turistas que chegarão nos próximos anos?

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O progresso é imparável.

Mesmo nos regimes mais autoritários, e a não ser que estejamos a falar daquele tipo de países onde a população se vê obrigada a viver num Big Brother constante, mais cedo ou mais tarde, o progresso chegará.

Tenho pensado nisso durante o meu tempo por terras sauditas, que – devo admitir – tem sido bem mais prazeroso do que o primeiro dia fazia antever. As minhas primeiras impressões registaram um país extremamente conservador, onde a versão mais literal do Islão impera na lei, tradição e cultura. Não que a minha percepção tenha mudado. Conforme mencionei na minha crónica anterior, este é, de facto, “o país mais conservador que já visitei”. Ainda assim, confesso-me surpreendido com o nível de liberdade que os Sauditas têm vindo a atribuir “ao outro”.

Atendendo à forma como o país é muitas das vezes retratado, esperava uma realidade bem mais restrita, mesmo para estrangeiros. Uma espécie de garrote constante sob a forma do paradigma de que, estando em terra alheia, seria obrigado a acatar as regras e normas locais, por mais draconianas que me parecessem. Porém, parece que não é bem assim!

A origem do conservadorismo Saudita

Como em qualquer outra religião, não podemos colocar todo o Islão no mesmo saco. Dentro do mesmo credo, existem diferentes correntes, filosofias e rituais. Diferentes obrigações e expectativas. Diferentes pressões sociais. Por isso a realidade de nações como Turquia, Albânia ou Uzbequistão, é diferente da experienciada em países como o Irão, Yemen ou Somália. Se em alguns países o Islão apresenta um carácter secular, noutras a sua influência está bem patente na constituição – chamam-lhe Lei Sharia. A Arábia Saudita faz, efectivamente, parte do grupo de países onde a Sharia está enquadrada no sistema judicial.

Mais do que um credo absoluto desde o início dos tempos, o teor conservador da sociedade Saudita tem, na realidade, origens sociopolíticas. No século XVIII, uma corrente ultraconservadora tinha vindo a ganhar tracção na Península Arábica. Criada por Muhammad ibn Abd al-Wahhab, ganhou o nome de Wahhabismo. Acontece que a popularidade desta corrente entre a população ajudava a legitimar a sua influência, pelo que o líder tribal Muhammad ibn Saud – ancestral da actual dinastia Saudita – se viu obrigado a juntar forças com Wahhab. Foi um “casamento” feliz e bem-sucedido, que terminou com a expansão saudita por todo o território actual e consequente sucesso do movimento independentista em 1932.

Durante séculos, esta união ajudou a assegurar a estabilidade do país, porém à custa da implantação de um modelo de sociedade extremamente conservador e restrito, de acordo com as vontades da altamente influente ala clerical.

Visão 2030 – O motor do progressismo

Mas, mais uma vez, o progresso é imparável, e mesmo quando essa revolução cultural não parte do povo, a necessidade acaba por aguçar o engenho. Após a ascensão de Mohammed bin Salman ao título de Príncipe-Herdeiro, as coisas começaram a mudar. Salman, um tipo jovem e com outra noção do mundo actual, percebeu que as reservas de petróleo do país, por maiores que sejam, não são infindáveis, e que será necessário remodelar por completo o tecido económico da Arábia Saudita, sob o risco de o país colapsar dentro de algumas décadas, quando o petróleo passar a assumir um papel secundário nos processos de transporte e produção.

Após uma cuidadosa fase de estudos, está em marcha uma autêntica remodelação do país como o conhecemos, sob a forma de um plano que ganhou o nome de Visão 2030. Embora o plano seja extremamente diversificado e ambicioso, com direito a centros tecnológicos e um investimento sem paralelo em energias renováveis, uma das metas passa por transformar a Arábia Saudita num dos principais destinos turísticos do mundo. Mas para isso, há que tornar o país num destino apelativo e ajudar a desmistificar o mau nome – maioritariamente associado ao ultraconservadorismo – que lhe é muitas vezes atribuído.

Ciente deste facto, o Príncipe-Herdeiro tem vindo a empreender esforços no sentido de diminuir a influência do Wahhabismo na sociedade saudita e a implementar medidas que, no contexto do país, são verdadeiramente progressistas. Para além de suspender a obrigatoriedade de utilizar hijab ou abaya em público, as cidadãs sauditas deixaram de requerer a autorização de um familiar do sexo masculino para poderem viajar. Contudo, nenhuma outra medida teve maior eco internacional do que a suspensão da infame proibição de conduzir de que as mulheres eram alvo.

Pode parecer coisa pouca, mas num país que ainda há bem pouco tempo estava fechado ao mundo, estas medidas progressistas são um sinal forte do rumo que a nação irá tomar.

Mudar mentalidades por decreto

Ao longo da minha estadia por terras sauditas, tenho-me sentido bem recebido. Para lá do ocasional olhar inquisitivo/curioso, as pessoas parecem genuinamente felizes por começarem a ver estrangeiros em turismo.

A prova dos 9 seria tirada na Costa do Mar Vermelho, onde a Arábia Saudita tem algumas das praias mais fabulosas do mundo (experimenta googlar “Umluj”, conhecida como as Maldivas da Arábia). Num país onde os homens vão a banhos de roupa e as senhoras mal se aproximam da água, estávamos bastante curiosos (e, já agora, receosos) das reacções que iríamos encontrar assim que começássemos a tirar a roupa.

Talvez por isso, começamos o dia numa praia escondida, aconselhada por uma Australiana que tínhamos conhecido na semana anterior em Al Ula. Um areal pequeno, 0 pessoas à volta e a estrada mais próxima a uns 100 metros de distância – perfeito! Ao fim de 1 hora nos nossos típicos trajes de banho ocidentais, ouvimos um veículo aproximar-se. Um jeep policial, a avançar lentamente pelas dunas na nossa direcção. Apressadamente e sem jeito, vestimo-nos de forma destrambelhada, e aproximamo-nos com ar sério da janela do condutor. Vamos levar um raspanete? Talvez uma multa?

Nada disso! O agente abre a janela, sorri e pede apenas que estacionemos o carro noutro sítio, apontando para o local onde quer que o coloquemos. Dá-nos as boas-vindas à Arábia Saudita e pede que aproveitemos.

No período da tarde, já em Yanbu, decidimos que queríamos ver o pôr-do-sol na praia pública. Esta já pouco ou nada resguardada, com vários indivíduos e famílias no areal e na água, deixou-nos um pouco mais desconfortáveis. Uma coisa seria nadar em trajes menores num sítio isolado, sem ninguém em redor. Aqui, a tarefa tinha tudo para se revelar menos frutífera. Aproximo-me de uma das famílias e pergunto abertamente se é possível as mulheres nadarem de bikini. O chefe de família diz que não é nada comum, que as sauditas vão à água vestidas, mas que por ele não há problema algum. Aponta para dois tipos jovens sentados em esteiras e diz que são eles que “controlam a praia”.

Volto a aproximar-me e faço a mesma pergunta. Parecem simultaneamente divertidos e surpreendidos. Mas, mais uma vez, a resposta é afirmativa, pedindo apenas que, quando saíssemos da água, nos resguardássemos com uma toalha. Quando me perguntam de onde sou, despedem-se com um “SIIIIU” à Cristiano.

Foi um final de tarde paradisíaco, daqueles que se vêm nos filmes. A temperatura ainda a rondar os 28 graus, a água em modo “sopinha” e as famílias à nossa volta a desfrutarem igualmente do momento. Voltamos ao areal e, conforme pediram, secamo-nos e vestimo-nos rapidamente. Ao fundo, os jovens que monitorizam a praia estendem o braço em sinal de saudação. Respondo com o braço ao peito, em sinal de agradecimento.

O progresso chegou à Arábia Saudita. E é imparável.

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