Damasco, Síria – A cidade mais antiga do mundo 🇸🇾

Antes do início da guerra – diz-nos o Mr. Tayseer – a Síria costumava ser um país com muito turismo. Todos os anos, cerca de 8 milhões de turistas, maioritariamente provenientes do Médio Oriente e Europa, costumavam visitar o país.

Agora, depois de uma violenta guerra civil com envolvimento russo e americano e uma luta selvagem contra os extremistas do Daesh, poucos são os estrangeiros que metem os pés em solo Sírio.

Visto para a Síria – Um processo caro, mas descomplicado

Para além da má fama do país e das preocupações de segurança, visitar a Síria é um processo desnecessariamente caro. Num país onde consegues facilmente comer por 3 ou 4€/pax, ou até menos, as autoridades obrigam-te a contratar um tour para que te seja emitido um livre-trânsito de segurança (security clearance), obrigatório para emissão de visto. Sem tour, nada de visto!

Os preços dos tours variam consoante o programa e a duração. No meu caso, um tour de 6 dias/5 noites custou cerca de 955 USD/pax, com guia, alojamento, deslocações e actividades incluídas (refeições, visto e extras, pagos à parte). É o preço (literalmente) a pagar para visitar um dos destinos mais obscuros do planeta.

No entanto, o processo é simples e rápido, bastando enviar uma cópia do passaporte e algumas informações pessoais para que obtenhas luz verde e possas marcar a viagem. Não há nenhum pagamento antecipado, sendo o tour pago apenas à chegada. Isto significa que a agência não tem qualquer salvaguarda a não ser a tua palavra. Se no dia marcado não compareceres, a agência fica prejudicada no que toca às reservas dos hotéis e aos motoristas/guias já contratados.

Nada de novo na cultura árabe e muçulmana – aqui, a palavra dada continua a ser um compromisso.

Existem 2 agências bastante conhecidas no meio e que estão baseadas na Síria: Marotta Travel e Golden Target. Eu fui com a segunda e recomendo-os vivamente. Para os interessados, poderão entrar directamente em contacto com a agência através de Whatsapp:

• Mr. Khaldoun: +963 944 372 700
• Mr. Bahaa: +963 988 265 427

De Beirute a Damasco – A chegada à Síria

Acordei em Beirute (Líbano) com a mesma excitação de uma criança na manhã de Natal. Por um lado, obviamente entusiasmado com a viagem que estava por vir. Por outro, receoso do que iria encontrar. Já estava preparado para a destruição e pobreza, mas tinha genuína curiosidade de como um estrangeiro seria recebido num país que – pelo menos tecnicamente – continua em guerra.

Com a deslocação entre as capitais Libanesa e Síria incluída no programa, partimos cedo rumo à fronteira. Depois de ultrapassados os processos formais e pago o visto (67 USD/pax), e ao fim de cerca de 20 minutos, lá estava o tão almejado carimbo no meu passaporte. Oficialmente na Síria!

As primeiras impressões do país haveriam de me acompanhar até ao final da viagem. Para lá dos constantes checkpoints militares – pelo menos 5 ou 6 nos 60 km que separam a fronteira do centro histórico de Damasco (ou Damascus) – é fácil perceber que na Síria opera um constante culto da personalidade. Um pouco por todo o lado, de edifícios militares e governamentais a lojas, restaurantes e até complexos religiosos, é possível encontrar inúmeros cartazes com a cara do presidente Bashar al-Assad.

Seja simplesmente a pousar para a câmara ou a fazer actividades mundanas do quotidiano, como comer, rezar ou conversar com estranhos, somos lembrados a cada passo de quem controla o país com punho de ferro. Aliás, e num estilo marcadamente “Putinesco”, alguns dos placares tentam até passar a imagem do líder “cool”, de arma na mão e óculos de sol. Um verdadeiro tratado à propaganda!

Damascus, Síria – A capital onde os ponteiros se recusam a mexer

Por sorte e privilégio, já tive a oportunidade de visitar alguns locais obscuros que me deixaram de queixo no chão, mas confesso que não sei se algum se aproximará de Damasco. Quiçá por preconceito ou desconhecimento, e mesmo sabendo de antemão que a guerra, felizmente, nunca chegou ao centro da cidade, a realidade é que nunca sequer cogitei encontrar um sítio destes.

Dizem os entendidos que Damasco é a cidade continuamente habitada mais antiga do mundo – um título que disputa com Aleppo, também na Síria – e a verdade é que quem a vê não estranha o epíteto. O centro histórico, chamado de Old Damascus, é uma área gigantesca rodeada de uma muralha antiga. Um rendilhado de ruas estreitas, edifícios antigos e souks autênticos, polvilhados com mesquitas históricas, restos de templos romanos, santuários xiitas, hammams e caravanserais.

É provavelmente o centro histórico mais cru e real que alguma vez visitei. Uma região onde os locais ainda fazem compras no comércio tradicional, os artesãos continuam a fabricar as suas especialidades nas suas lojinhas e onde todos – MAS TODOS – os restaurantes e cafés têm algum tipo de legado histórico e cultural. Pensem numa cidade repleta de “Majestics” e “Brasileiras”, mas com preços do Café Central da terrinha.

É assim Damasco, uma cidade onde, por escolha ou falta de alternativa, tudo permanece num limbo temporal. Como se a engrenagem do relógio não funcionasse, ou a areia seja já seca para o corpo demasiado estreito da ampulheta.

Sim, a Síria tem marcas de guerra, tem pobreza e tem destruição. Mas tem também, na sua capital, uma das cidades mais bonitas e genuínas do planeta. Para visitar, antes que a globalização chegue primeiro.

Damasco em 10 fotografias