No regresso à estrada, desta feita para uma aventura mais curta, o nosso editor leva-nos ao Japão – a Terra do Sol Nascente. Na sua primeira crónica, debruça-se sobre o significado de transcendência, e a forma como a mesma pode ser encontrada nos locais mais inusitados.
“And the people bowed and prayed,
To the neon gods they made”
The Sound of Silence, Simon & Garfunkel (1964)
Nunca fui um tipo religioso. A minha mãe bem tentou. Catequese, preces, orações. A Primeira comunhão. Nunca funcionou. Ironicamente parafraseando Tomé: preciso de “ver para crer”.
Não que tenha crescido num meio particularmente religioso, mas sempre houve, pelo menos em criança, esse esforço para que me conectasse com qualquer força espiritual. Nunca resultou. No entanto, entre os “pais nossos” frustrados e os pedidos aos anjos da guarda, lá havia uma técnica que ia resultando: orar às estrelas.
Afinal, as estrelas não são um conceito abstracto. As estrelas podem ser vistas (mesmo que apenas o seu reflexo morto de há séculos) e estudadas. E mesmo que envoltas num misticismo e desconhecimento ainda profundos, não deixam de ser um fenómeno passível de ser explicado pela Ciência.
Em criança era suficiente, e lá ia eu pedindo e agradecendo às estrelas, que com o passar dos anos foram ganhando o rosto e o nome dos que já cá não estavam. O ser humano é fascinante. Mesmo depois de milénios de desenvolvimento genético, natural e tecnológico, continuamos à procura de significado naquilo que não compreendemos. Como os neandertais e os inúmeros povos pagãos antes de “nós”, continuamos na busca incessante por qualquer tipo de transcendência. Primeiro na lua e no sol, depois nos altares, e agora na mais recente profecia da “manifestação”.
Transcendência, acho que essa é a palavra. Mas será possível compreender esse conceito quando estamos numa selva de betão? Por alguma razão, todos os retiros espirituais têm lugar em ilhas, praias ou montanhas. Desde tempos idos, é na natureza que o homem procura significado para a sua essência. É que, com a poluição visual e sonora, nas grandes cidades não se veem as estrelas.
No entanto, a minha estadia em Tóquio tem-me feito repensar esse conceito.
Afinal, a transcendência pode ser mais que um silêncio profundo ou um céu estrelado. Quando passeio por Shinjuku numa noite de Sábado, apenas mais uma das centenas de milhares de almas que ocupam as ruas da mais popular área da capital nipónica, sinto-me perto de qualquer força sobrenatural.
Os placares de néon, exibidos nos andares mais altos dos arranha-céus do distrito, ajudam a tornar o céu mais brilhante. As multidões desalmadas, encontram a harmonia num aparente caos contido, como peixes num aquário que nunca se tocam, não importa quão pequeno seja o espaço entre eles.
E os megafones, em constante transmissão de mensagens publicitárias, ecoam pelas avenidas e fazem lembrar qualquer pregador no topo de um púlpito. Para alguns, a mensagem é forte o suficiente para impulsionar a compra. Outros, ouvem e seguem a sua vida. Para mim, que não compreendo japonês, são apenas mensagens estranhas e ruidosas.
No escuro da noite, os prédios mais altos de Tóquio exibem luzes vermelhas cintilantes, espalhadas por toda a fachada. Sendo esta uma das cidades com maior tráfego aéreo do mundo, essas luzes são obrigatórias para que todos os edifícios sejam visíveis para aviões e helicópteros. Quando vistas ao longe, o resultado é um verdadeiro mar de luzinhas vermelhas, que aparentemente levitam na escuridão.
Ainda assim, e tal como qualquer religião ou experiência transcendente, também os “altares” de Tóquio devem ser consumidos em moderação, e ao fim de algumas horas preciso de regressar à clausura do meu quarto, no 19º piso de um edifício moderno. Saio do elevador e espreito pela janela do canto, virada para um distrito empresarial de Tóquio. Bem lá no horizonte, as lâmpadas vermelhas brilham mais que nunca. Milhares e milhares de pontinhos vermelhos cintilantes a iluminar o breu da noite nipónica.
Afinal, de Tóquio também se veem as estrelas.
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