O Dubai é a mentira em que todos queremos acreditar 🇦🇪

  • 03.03.2023 10:20
  • Bruno A.

Depois de umas semanas de silêncio, o nosso editor volta às suas crónicas com uma retrospectiva da quinzena que passou no espampanante Emirado do Dubai. Se adorou ou detestou, nem ele sabe bem responder. Restam uns quantos pensamentos soltos sobre o que esta cidade realmente significa e o que projecta para o futuro.

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Já lá vão umas boas 3 semanas desde a última crónica, mas o meu périplo pelo Médio Oriente segue firme e hirto. Desde então, já saí da Arábia Saudita, passei 2 semanas pelo Dubai e estou agora, recém-entrado, no Sultanato do Omã, um país que tem vindo a ganhar tracção nos mapas turísticos ao longos dos últimos anos.

No entanto, e como já devem ter adivinhado pelo título do texto, esta crónica será dedicada ao Dubai. Na realidade, acho que já perdi a conta ao número de vezes que tentei começar este artigo, mas cada processo termina, invariavelmente, comigo a olhar para o ecrã maioritariamente branco do computador, com cada vez mais dúvidas que certezas, relativamente a qual o ângulo a abordar.

Acontece que, e contra todas as minhas expectativas, gostei bastante do Dubai. No entanto, cada pedacinho do meu ser quer lutar contra esse impulso. Vinha preparado para um sítio que iria desprezar, mas saio vergado a todas as conveniências do Emirado, e a pensar que viver aqui – assim permitisse o orçamento – não seria nada má ideia.

O Emirado do supérfluo

Mesmo depois destas intensas duas semanas em terras Emiratis, mantenho a minha expectativa inicial de que, turisticamente falando, o Dubai não é a minha praia. Por uma questão de gosto pessoal, privilegio sempre a história sobre a modernidade, o antigo sobre o novo, a pedra e o adobe sobre o vidro e o betão. Desse ponto de vista, devo dizer, o Dubai não me enche propriamente as medidas. Tem os seus pontos de interesse, mas é na generalidade uma amálgama de arranha-céus, estradas largas e luzes, pontuada com alguns quarteirões mais recentes, esses sim, mais pensados para os pedestres.

No entanto, é importante ter em conta que o contexto importa. E, meus amigos, eu tinha acabado de passar por uma travessia no deserto (no sentido figurado e literal)! Eu adorei a Arábia Saudita – entrou certamente para o meu top5 de destinos favoritos – e o país é bastante moderno… porém, a nível social, está a anos-luz da realidade europeia. A título de exemplo, acho que praticamente já não via a cara de outra senhora, para além da minha, há mais de 1 mês. Para além disso, e uma vez que a KSA é bastante homogénea cultural, religiosa e etnicamente, era por vezes difícil conseguir encontrar outro tipo de produtos nos supermercados, o que é especialmente importante no nosso caso, uma vez que apenas cozinhamos refeições vegetarianas. Digamos apenas que chegar ao Dubai e conseguir comprar um bloco de tofu foi quase catártico!

Eu, que nunca gostei de pensar em mim próprio como alguém propriamente agarrado às conveniências e bens materiais, deu por mim quase que aliviado por um acesso tão fácil a essas mesmas utilidades.

Que futuro para o Dubai?

Como será crescer aqui? Ser criança aqui? Uma criança que cresça aqui no Dubai poderá crescer a pensar que o mundo está repleto de pessoas diferentes, culturas diferentes, e que todas as crenças, credos, tradições e gastronomias têm lugar lado a lado num lugar onde o bem-estar é prioridade. Talvez se surpreenda ao visitar outros locais bem mais homogéneos, onde todos se parecem e partilham das mesmas tradições e cultura. Talvez pense que o mundo é assim – um lugar onde hijabs e minissaias convivem lado a lado sem pudor. Um lugar onde a gastronomia local é feita de gastronomias do mundo. Talvez cresça a pensar que os robots existem em toda a parte, que as ruas limpas são uma realidade global, que o conforto proporcionado por uma terra desenhada a régua e esquadro abrange outros sítios do mundo.

Olho à volta mais uma vez e vejo um cartaz que anuncia grandes avanços tecnológicos na saúde. Um médico e um enfermeiro partilham destaque com um robot humanoide de seringa na mão. Até os hospitais parecem clínicas de bem-estar futuristas.

Este sítio é tão artificial que chega a ser autêntico, porque não há outro lugar assim no mundo. E eu olho em volta, depois do espetáculo diário de luzes no edifício mais alto do mundo, e não consigo evitar pensar… Não seria fantástico, se o futuro fosse realmente assim?

A tecnologia em favor das pessoas.

O dinheiro em favor das pessoas.

Uma sociedade do lazer, bancada pelas tecnologias mais avançadas a criar riquezas sem fim. Tudo em prol do desenvolvimento de uma sociedade onde todos queremos estar, um mundo que nos faz bem, que nos dá saúde, qualidade de vida. O Dubai promete hospitais que nos melhoram a saúde só de entrar, qual hotel de luxo qual quê. O Dubai promete tecnologia topo de gama para melhorar a saúde de todos. O Dubai promete abrir as portas a quem vem em busca de melhores condições de vida, quem vem em busca de um sonho – não será por acaso que os tantos indianos, paquistaneses e bengalis perfazem cerca de 80% da população.

O Dubai promete qualidade de vida – com prédios de luxo equipados com piscinas, ginásios e áreas verdes, a preços não tão diferentes daqueles que encontramos agora em pleno Porto ou Lisboa. Promete uma sociedade em constante crescimento, promete passaportes a especialistas de qualquer área das ciências – então é para aqui que os cérebros fogem…

E eu olho em volta, e não consigo evitar pensar… Dubai, quero acreditar na mentira que me contas. Será possível que realmente consigam concretizar o que se propõem a criar aqui? Não sei, mas hoje… Só por hoje, não me apetece pensar nisso. Nem nos criminosos políticos e oligarcas que aqui vivem, nem nos regimes de impostos que vão contra tudo aquilo que defendo.

Deixa-me contemplar as vistas, beber o meu café, descansar o corpo do suave cansaço da piscina, e desfrutar desta mentira, só mais um bocadinho.

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