Guia de viagem do Iraque que inclui informações acerca de hotéis, transportes e dicas de segurança, bem como um roteiro completo com tudo o que deves ver e visitar no Iraque em 10 dias.
À conta do regime sanguinário de Saddam, de uma gigantesca guerra patrocinada pelos Americanos, de vários anos de indecisões e divisões políticas e da ingerência do ISIS, durante 25 longos anos habituámo-nos a olhar para o Iraque como um destino off-limits e um país perigoso.
Contudo, e antes de todo este tumulto, a Mesopotâmia foi o berço de algumas das maiores civilizações da história. Por aqui passaram Sumérios, Babilónios e Assírios, e todos eles deixaram um gigantesco legado histórico e cultural nesta pequena região do globo, delimitada pelos lendários rios Eufrates e Tigre. Nos séculos VIII e IX, quando a Europa estava mergulhada na Idade das Trevas, consequência da queda e vazio deixado pelo Império Romano, era em Bagdad que se reuniam as mentes mais brilhantes desse tempo, fazendo da actual capital iraquiana o principal centro do conhecimento do mundo! Como vês, este país tem uma história de milhares de anos, constantemente manchada pela dura realidade das últimas décadas. Agora, é altura de ajudar a reerguê-lo.
Lar de cidades antigas, ruínas históricas, santuários sagrados e até ecossistemas tribais, convidamos-te a ler o nosso guia de viagem do Iraque e descobrir o que de melhor a região da Mesopotâmia tem para oferecer, incluindo hotéis, transportes, dicas de segurança e ainda um roteiro completo de 10 dias com tudo o que deves visitar no Iraque.
NOTA: É importante ter em atenção que o actual território do Iraque se encontra dividido entre o Iraque Federal, a sul, e o Curdistão Iraquiano, a norte. Apesar de serem oficialmente parte do mesmo país, a verdade é que estas são duas nações completamente distintas, cada uma com a sua própria língua, maioria étnica e costumes, mas também com órgãos governativos diferentes, e até postos fronteiriços demarcados entre elas. Assim sendo, este guia será apenas referente ao Iraque Federal!
O território do Iraque Federal é servido por dois aeroportos internacionais: o Aeroporto de Basra e o Aeroporto de Bagdad.
Naturalmente, não existem quaisquer voos directos a partir de Portugal, pelo que serás sempre obrigado a cumprir escala noutro país. Olhando às várias possibilidades existentes, os locais onde poderás fazer escala mais facilmente serão Amã (Jordânia), Cairo (Egipto), Dubai/Abu Dhabi (EAU), e, a solução mais óbvia, Istambul (Turquia).
Alternativamente, podes também entrar por terra a partir do Sudeste da Turquia (passando pelo Curdistão Iraquiano), do Kuwait, da Arábia Saudita ou da Jordânia (lugar no táxi partilhado entre Amã e Bagdad custa entre 50€ a 90€). O país partilha ainda fronteiras terrestres com Irão e Síria, embora seja consideravelmente mais difícil fazer a travessia.
Escusado será dizer que, estando situado na Península Arábica, os Verões são insuportavelmente quentes no Iraque. Mesmo na shoulder-season, deverás esperar temperaturas bastante altas no sul do país. A título de exemplo, no final de Maio, apanhei 42ºC em Basra, e o calor seco era absolutamente indescritível! No entanto, também não recomendo que agendes a tua visita para o pico do Inverno, uma vez que alguns dias (e regiões) poderão ser bastante frios e a infraestrutura do país não estará devidamente preparada para isso. Nada que se compare ao desconforto do calor abrasador, mas também não será propriamente confortável.
Posto isto, a melhor altura para visitar o Iraque tem lugar entre os meses de Março-Abril, e mais tarde por meados de Outubro-Novembro. Por esta altura, a temperatura máxima rondará uns agradáveis 25-30ºC. Para além disso, Março marca também as celebrações do Nowruz, o Ano-Novo do calendário Persa que, apesar de ter bem maiores repercussões no vizinho Irão e no Curdistão Iraquiano, é também bastante celebrado no Iraque.
Finalmente, e se fizeres mesmo questão de te imiscuir no modo de vida local, uma das melhores alturas para visitar o Iraque coincide com o Arbaeen, a maior peregrinação do mundo. Este evento religioso tem lugar anualmente entre Agosto e Setembro (a data vai variando), no qual milhões de pessoas completam o percurso a pé até à cidade sagrada Xiita de Karbala. Em 2019, foram mais de 20 milhões de pessoas reunidas nas celebrações, sendo que ao longo do caminho de 80 quilómetros entre Najaf e Karbala (o trecho mais popular) é possível encontrar comida e alojamento gratuitos para os caminhantes. Um desafio duro, mas recompensador!
Depois de muitos anos onde o turismo era virtualmente proibido e não eram sequer emitidos quaisquer vistos da especialidade, o Iraque decidiu reabrir-se ao mundo em 2019.
Hoje em dia, e para qualquer cidadão da União Europeia, basta apresentar um passaporte com validade mínima de 6 meses à chegada, e é-te automaticamente atribuído um visto válido por 2 meses. Esse visto tem o custo de 75$/75€, pelo que deves fazer-te acompanhar desse montante em numerário na tua chegada ao Iraque.
No caso do Aeroporto de Bagdad, e antes de passares pelos agentes fronteiriços, irás dar de caras com uma pequena secretária com uma simples folha A4 com a mensagem “Visa on Arrival”. Entregas o passaporte, aguardas cerca de 1 hora e o mesmo ser-te-á devolvido com o autocolante mágico. Depois é só pagar ao agente e prosseguir pela segurança.
Estando o país situado fora da UE e sem nenhum tipo de acordo para a isenção de taxas de roaming nas telecomunicações, não poderás utilizar o teu tarifário português actual durante a tua viagem ao Iraque.
Aliás, a primeira coisa que deves fazer antes de levantares voo rumo ao país é mesmo desligar todos e quaisquer dados móveis que tenhas activos no teu telemóvel, sob pena de teres uma (muito) desagradável surpresa no final do mês. Ainda que os custos possam variar de acordo com a operadora, e apenas para ficares com uma noção do que esperar, a Vodafone cobra os seguintes valores para comunicações em território brasileiro:
Posto isto, a nossa recomendação é que compres um cartão SIM assim que chegues ao Iraque, sendo que poderás fazê-lo ainda no aeroporto, no terminal das chegadas. Se chegares durante a madrugada e os stands já estiverem fechados, podes encontrar muitas lojas espalhadas por toda a Bagdad, com uma concentração bastante grande nas imediações da Praça Tahrir. Existem três grandes companhias de telecomunicações no Iraque: Zain, Asiacell e Korek. No meu caso, escolhi o cartão da Korek e funcionou melhor que o esperado. Evidentemente, num país com infraestruturas tão debilitadas, existem várias zonas (especialmente no percurso entre cidades) onde a cobertura é inexistente.
Ao contrário do vizinho Irão, é perfeitamente possível utilizar cartões da rede Visa e Mastercard para fazer levantamentos no Iraque. No entanto, tem em atenção que nem todas as caixas poderão aceitar cartões estrangeiros. Isto significa que, por vezes, é preciso percorrer 2 ou 3 caixas até encontrares uma que seja compatível.
Quanto ao melhor cartão a utilizar, e tendo como moeda oficial o Dinar Iraquiano (IQD), qualquer levantamento que faças no Iraque recorrendo a um cartão português recorrerá naturalmente ao pagamento de várias taxas. Para além da taxa percentual sobre o valor do levantamento (relativa à conversão), a tua transacção estará também sujeita ao pagamento de um valor fixo, referente à taxa por levantamento de divisa fora da zona Euro. Contas feitas, podes acabar a pagar ao teu banco bem acima de 6% do valor do teu levantamento.
Uma vez que efectuar o câmbio antes da viagem está também longe de ser económico – para além de não ser propriamente seguro andares com uma quantia tão grande em dinheiro vivo – a melhor alternativa passa por recorreres aos serviços de bancos online como o Revolut ou o N26.
No caso do primeiro, permite-te efectuar levantamentos até um determinado limite mensal sem que te seja cobrada qualquer taxa. Para além disso, mesmo depois de atingido esse patamar, as comissões são residuais quando comparadas às dos bancos tradicionais. Contudo, é importante ter em atenção que o Revolut não te “protege” no que toca a eventuais taxas que o banco responsável pela caixa automática que utilizares cobre por levantamentos com cartão estrangeiro. No Iraque, é bastante comum encontrar caixas automáticas que cobrem 5000 e até mesmo 7500 IQD por levantamento. Seja como for, e existindo alguma comissão cobrada pelo banco do destino, essa informação é-te sempre comunicada antes de confirmares o levantamento, por isso nunca serás apanhado desprevenido.
Descobre mais: Dicas para viajantes: Tudo que precisas de saber sobre o Cartão Revolut
Por outro lado, se preferires jogar pelo seguro e fazer-te acompanhar de euros ou dólares para a tua aventura iraquiana, ficas desde já a saber que é perfeitamente possível cambiar dinheiro em qualquer cidade do país. Embora a maioria das casas prefira dólares, os euros também são universalmente aceites. Aliás, não raras vezes, é até possível obter melhores rácios de conversão nas casas de câmbio comparativamente ao valor do câmbio oficial.
Quanto aos pagamentos, e embora os hotéis de gama alta e os bares/restaurantes mais luxuosos aceitem cartão, a esmagadora maioria das tuas transacções será feita em numerário.
No que toca a viajar no Iraque, esta será provavelmente a maior preocupação dos que se aventuram até terras da Mesopotâmia. Felizmente, posso dizer que, nas últimas décadas, nunca foi tão seguro viajar no Iraque como agora. Apesar dos muitos problemas estruturais, o país parece ter encontrado algum tipo de estabilidade, e isso acaba sempre por se reflectir nas condições de segurança.
Claro que há sempre um risco maior de que algo corra mal no Iraque do que na generalidade do Velho Continente, mas no cômputo geral, senti-me perfeitamente seguro a atravessar todo o Iraque Federal e a percorrer as ruas das cidades, a qualquer hora do dia ou noite. Diria que, em termos comparativos, não será muito diferente de viajar pela Europa Ocidental em 2015/2016: há sempre um risco acrescido de que ocorra alguma explosão ou atentado terrorista, mas a probabilidade de que aconteça precisamente no dia da tua visita e no local onde te encontras, é praticamente nula.
Por fim, resta mencionar que não me deparei com qualquer burla ou esquema durante a minha viagem pelo Iraque. O país praticamente não tem turismo, por isso o dinheiro estrangeiro ainda não criou vícios. A probabilidade de seres enganado, roubado ou assaltado é extremamente baixa, sendo que os únicos chicos-espertos com que me deparei eram todos condutores de táxi… que são iguais em todo o lado!
Ironias à parte, é muito mais intimidante e arriscado viajar pela América do Sul, do que pelo Iraque.
Ao transitares entre as várias cidades iraquianas, notarás que existem sempre checkpoints de segurança em alguns trechos da estrada. No caso de Bagdad, esses checkpoints estão presentes bem no meio da cidade: na icónica Green Zone, onde ficam todas as embaixadas e edifícios governativos da capital Iraquiana. Embora intimidantes, esses checkpoints ajudam a proporcionar uma maior sensação de segurança e controlo à população local.
Sempre que atravessares um checkpoint, terás que dar o teu passaporte ao agente de serviço, que provavelmente soltará um sorriso ao ver que és estrangeiro antes de te devolver o documento e mandar o teu carro seguir caminho. Até meados de 2022, as condições de segurança eram tão apertadas em certas cidades que os estrangeiros precisavam de um contacto local para poder entrar. Sem esse contacto, os visitantes eram devolvidos à precedência. Felizmente, esse já não é o caso, sendo agora perfeitamente possível viajar por todo o Iraque Federal (incluindo Mossul, Samarra, Nassíria e Ur) sem qualquer contacto específico, à excepção das localidades de Fallujah e Ramadi.
Como nota final, resta mencionar que em Samarra serás obrigado a deixar o teu passaporte no checkpoint de segurança à entrada da cidade. Em troca, ser-te-á dada uma espécie de credencial em papel que trocarás novamente no checkpoint para que o passaporte te seja devolvido.
Possivelmente um dos povos mais incompreendidos e injustiçados do mundo, os Iraquianos têm um coração enorme. À semelhança de outros países da região, como Irão, Arábia Saudita ou Omã, a população tem um orgulho enorme em receber bem aqueles que vêm de fora, em conformidade com os costumes e ensinamentos do Islão (a hospitalidade para com os viajantes está consagrada no Corão).
Se estás de visita a um dos locais sagrados do país, como Najaf ou Karbala, essa hospitalidade fica ainda mais vincada. Assim que reparem que és estrangeiro, serás abordado na rua para fotografias, convidado para tomar chá e até pode ser que te tentem oferecer dinheiro para comer e/ou um local para dormir (falo por experiência própria!). Mesmo os elementos das forças de segurança, como polícias, militares e agentes dos checkpoints, irão sempre receber-te com um sorriso aberto e uma palavra amigável.
Curiosamente, o Iraque pareceu-nos bem mais ocidentalizado que alguns dos seus vizinhos mais ricos. Para além disso, e quiçá pela forte e duradoura presença americana, encontrar cidadãos que consigam falar inglês acaba por não ser assim tão raro ou difícil (embora não seja a norma).
Em suma, se tiveres uma personalidade extrovertida e não tiveres receio de te fazer notar enquanto turista estrangeiro, fazer amigos no Iraque é extremamente fácil e qualquer local que conheças fará questão de fazer todos os possíveis para que te sintas bem acolhido no seu país.
Infelizmente, a natureza patriarcal e sexualmente castradora de algumas destas sociedades faz com que muitos homens tenham dificuldade em saber como se comportar na presença de mulheres que não pertençam ao seu ciclo íntimo. Assim, e isto para as viajantes que visitem o país sem qualquer acompanhante masculino, não estranhem os olhares fixados ou a ocasional “boca foleira”. Seja como for, a hospitalidade iraquiana continuará presente, embora possa por vezes adquirir contornos ligeiramente desconfortáveis (mas nunca perigosos).
Sendo um país maioritariamente islâmico, é de bom tom adoptar um código de vestuário mais modesto. Para os homens, isso significa nada de mangas cavas ou calções. Já para as senhoras, é recomendado que evitem roupas demasiado justas, expostas ou reveladoras. Contrariamente ao que possas pensar, não é obrigatória a utilização de abaya ou hijab.
No entanto, as regras são diferentes nas cidades de Karbala e Najaf. Consideradas sagradas pelo ramo xiita do Islão, dentro destas cidades passa a ser obrigatória a utilização dos acessórios mencionados no parágrafo anterior. No resto do país, é tudo bem mais relaxado (a não ser que estejas a visitar uma mesquita ou santuário).
Eis que inaugurámos a secção das dificuldades logísticas! Meus caros, o Iraque não é (ainda) uma terra de turismo, e não há nada que evidencie mais esse facto que a dificuldade em encontrar alojamento!
Se fizerem uma pesquisa rápida pelos motores de busca habituais, rapidamente perceberão que existem muito poucos hotéis online, até mesmo em Bagdad. Para além disso, os que existem subdividem-se em duas categorias: os de aspecto e reviews aceitáveis mas extremamente caros; e os de preço médio (esqueçam, não há opções baratas online) mas com fotografias e comentários de bradar aos céus! Para além disso, não estranhes se ficares sem electricidade no quarto, uma ocorrência bastante comum em todos os alojamentos onde fiquei hospedado. Normalmente demoram uns 2/3 minutos a ligar o gerador e volta tudo ao normal… até ao próximo apagão! O Iraque é um destino para malta mais experiente, muito pela forma como tens que te adaptar aos constantes imprevistos, especialmente no que toca ao alojamento e aos transportes.
Posto isto, a melhor forma de planeares a tua viagem ao Iraque passa por consultares blogs e sites de viagem, onde podes encontrar artigos (como este!), escritos por malta que já esteve no terreno e te pode ajudar com algumas dicas e contactos úteis! Com base no que vi, li e experienciei no país, aqui estão algumas hipóteses de hotéis e alojamentos no Iraque!
Sendo Karbala a cidade mais sagrada do Iraque e destino anual de peregrinação de milhões de pessoas, não faltam hotéis nas imediações do santuário. O problema é conseguir encontrá-los online!
Aplica-se a mesma regra do destino anterior. Sendo também um destino preferencial de peregrinação, a cidade está repleta de hotéis e albergues para todos os gostos e carteiras… simplesmente não os encontrarás na internet.
Nota: No Iraque, praticamente todos os hotéis incluem pequeno-almoço. Alguns deles, especialmente em Karbala e Najaf, podem também inclui almoço e jantar. Podes negociar a tarifa com eles, removendo refeições de que não precises. Para além disso, é bastante comum os preços apresentados serem por pessoa, ao invés do valor total pelo quarto.
Apesar das condições de segurança estarem bastante melhores, é inegável que, por tensões étnicas, políticas e religiosas, tudo pode mudar bastante rápido em terras iraquianas. À conta disso, as autoridades locais levam os esforços de prevenção bastante a sério, com as zonas mais sensíveis de Bagdad cercadas por um forte perímetro de segurança. Naturalmente, o aeroporto é um desses locais.
Por causa disso, apenas passageiros, trabalhadores e outras pessoas devidamente autorizadas podem entrar no recinto do Aeroporto de Bagdad, com o primeiro checkpoint de segurança situado a uns bons 5/6 km dos terminais. Como tal, as opções de transporte são bastante limitadas, sendo que apenas duas ou três empresas credenciadas podem operar táxis nas imediações do aeroporto. Uma vez que a concorrência é inexistente, estas empresas podem cobrar o valor que bem lhes aprouver para transportar passageiros até ao centro de Bagdad, com cada deslocação a chegar facilmente aos 50.000 IQD.
A alternativa, caso não aterres em Bagdad de madrugada, passa por utilizar o único minibus que tem permissão para operar no aeroporto. Ainda assim, este veículo transporta os passageiros apenas até à Praça Abbas Ibn Firnas, situada logo à saída do perímetro de segurança, cobrando 8000 IQD pela curta deslocação. A partir daí, terás que recorrer às aplicações Careem ou Bolt (o Uber do Médio Oriente) para pedir um táxi até ao teu alojamento. Se ficares hospedado no centro de Bagdad, a tarifa rondará os 15.000 IQD.
As condições de transporte no Iraque são bastante suis generis. Após décadas de guerra e conflito que resultaram na destruição de grande parte da infraestrutura do país, o sector dos transportes é um espelho perfeito do “desenrascanço” Iraquiano. Aqui, não existem autocarros ou camionetas entre cidades. Não existe metro ou eléctrico, e a única linha de comboio em operação liga apenas as duas maiores cidades do Iraque Federal, numa deslocação longa e desconfortável.
Como tal, todos os Iraquianos que precisam de se deslocar entre regiões diferentes recorrem a táxis. Confuso? Eu explico!
Todas as cidades têm um ou dois depósitos conhecidos que funcionam como terminais de “autocarros” não oficiais. Basicamente, tens apenas que dizer para onde queres ir, e alguém te irá encaminhar para a fila de onde só saem táxis para esse destino. A partir daí, terás que esperar até que apareça mais gente que queira ir para o mesmo sítio para que o custo da viagem possa ser dividido entre todos. Em Bagdad, existem dois grandes depósitos (no Iraque chamam-lhes “Garages”), separados por uma estrada: o Allawi North (para cidades a norte, como Samarra e Mossul), e o Allawi South (para cidades a sul, como Al Hilla, Karbala ou Nassíria). Nas outras cidades, geralmente tens táxis partilhados a sair para todo o país da mesma “garage”.
Tudo isto requer tempo, flexibilidade e paciência. Por vezes, podes ter que esperar horas até que o táxi encha. Outras, se te fartares de esperar, vais acabar por pagar tarifas mais altas pelo “luxo” de viajar com um (ou mais) lugar desocupado. Uma vez que a tua viagem começará em Bagdad, recomendo que te “coles” a outros viajantes ocidentais que vás vendo no teu hotel da capital iraquiana. Não são muitos, mas são fáceis de encontrar, dada a falta de opções de hospedagem na cidade, e é bastante provável que todos estejam a fazer percursos iguais ou semelhantes, visitando muitos dos mesmos locais. Desta forma, é possível fazer algumas das deslocações em grupo e encher os táxis sem que seja necessário esperar por mais passageiros, poupando-te tempo e dinheiro.
Seja como for, deixo-te abaixo alguns valores de referência para as viagens mais populares do país. Estes preços são relativos ao montante a pagar por pessoa, assumindo que o táxi viaja com os 4 lugares de passageiros ocupados.
Conforme referi acima, existe apenas uma ligação ferroviária em todo o país, ligando as cidades de Bagdad e Basra. O comboio em si até nem tem más condições, mas a ligação é extremamente lenta, levando um total de 10 a 11 horas a concluir o trajecto de 530 km. Para além disso, os veículos operam apenas aos Sábados, Domingos e Segundas.
Os bilhetes podem ser comprados em pessoa nas estações, com os preços a oscilar entre os 15.000 IQD (para assentos normais e em primeira classe) e os 50.000 IQD (para uma cama numa cabine de 2 lugares).
Para transitares dentro das cidades, especialmente em Bagdad, o melhor é mesmo instalares as aplicações Careem e Bolt, os serviços de transporte privado mais populares do Médio Oriente. Funcionam exactamente nos mesmos moldes da Uber. Pedes a boleia, é-te designado um condutor e mostrada a tarifa, e no final podes optar por pagar em dinheiro ou associar o cartão à app (perfeitamente seguro).
Numa cidade gigantesca e onde os transportes públicos se cingem a umas meras carripanas (sem qualquer sinalização) que vais vendo a passar de vez em quando, o melhor é mesmo jogar pelo seguro. No entanto, e apesar de não ser propriamente caro, as tarifas serão provavelmente mais puxadas do que aquilo que estás à espera. Em alternativa, para deslocações curtinhas e mais baratas, podes sempre recorrer a um dos muitos tuk-tuks da cidade… mas prepara-te para seres levado por um miúdo de 15 ou 16 anos!
No que toca à gastronomia Iraquiana, podes esperar uma combinação entre todos os clássicos do Médio Oriente e alguns pratos típicos que só poderás mesmo encontrar pelas terras da Mesopotâmia.
Escusado será dizer, kebab é uma verdadeira instituição por estes lados, com praticamente todos os restaurantes a oferecerem algum tipo de variação deste prato de carne grelhadas com especiarias, habitualmente servido com pão pita, hummus, moutabal e uma série de outros condimentos locais. Igualmente rápidas e populares são as sandwiches de falafel, shawarma e as sfiha, esta última também conhecida por “Pizza Árabe”, normalmente servida com carne de borrego picada como topping.
Já para algo decididamente mais iraquiano, quererás experimentar a versão local de Kubba, uma tarte feita com farinha de couscous e recheio de carne moída; Quzi um prato de cordeiro grelhado servido com arroz e frutos secos; e Makhlama, carne picada de borrego com ovo a cavalo, habitualmente apreciado ao pequeno-almoço. Também para começar o dia, é extremamente comum ver os locais a desfrutar de Kahi, um folhado doce polvilhado com mel e coberto com Geymar, um creme feito com leite de búfalo. No entanto, se quiseres provar o prato mais emblemático de todo o Iraque, tens que experimentar o Masgouf, um peixe nativo das águas do Tigre e do Eufrates, grelhado sobre carvão. É considerado uma verdadeira iguaria, mas não é para todos os gostos, uma vez que a sua carne branca pode ter um sabor bastante pronunciado a terra/areia.
Como nota final, resta mencionar que não irei partilhar a habitual lista de restaurantes recomendados. A informação online é escassa e, muito sinceramente, acabei por não apontar ou memorizar os nomes dos locais onde comi. Para além disso, viajar no Iraque é passar muito tempo na estrada, pelo que é provável que faças muitas refeições em restaurantes aleatórios de beira da estrada, normalmente escolhidos/sugeridos pelo taxista ou pelos restantes passageiros (locais) do veículo partilhado. No entanto, e a título de referência, conta gastar 1000 a 4000 IQD por comida de rua (falafel, shawarma, hamburgers, etc) e 8000 a 12.000 IQD por um kebab tradicional em restaurantes médios. Quanto ao Masgouf, é obrigatório pedir um peixe inteiro, que será suficiente para alimentar umas 4 pessoas. Dependendo dos locais, a carpa inteira é coisa para custar 50.000 a 60.000 IQD.
Embora o Iraque seja um país bastante grande, com 10 dias já terás a oportunidade de conhecer o país (Iraque Federal) razoavelmente bem, embora a um ritmo acelerado. De Mossul a Basra, quase na fronteira com o Kuwait, serão muitos os quilómetros que percorrerás no alcatrão iraquiano, mas prometo que esta tem tudo para ser uma aventura que deixará saudades.
Posto isto, fica com o nosso guia de viagem e descobre o que ver e fazer no Iraque em 10 dias:
Bem-vindo a Bagdad, uma cidade que tem tanto de fascinante como de intensa! Durante décadas, habituámo-nos a associar o seu nome a perigo, terrorismo e interdição, pelo que estar aqui e caminhar por estas ruas pode inicialmente ser uma experiência surreal. Para o primeiro dia, irás mergulhar a fundo no centro histórico da capital iraquiana, atravessando o seu labirinto de bazares. Quando pensámos no Médio Oriente, a generalidade da população cria uma imagem estereotipada na sua mente, normalmente associada a cidades poeirentas, segurança apertada, arame farpado a barreiras anti-bomba. Uma cidade a sépia. De todos os locais que visitei no Médio Oriente, o Iraque (e especialmente Bagdad) é o que mais se aproxima desse estereótipo.
Posto isto, o teu dia começará na Praça Firdos, a 5km do centro histórico. Para os mais distraídos, esta foi a praça onde foi filmada uma das cenas mais emblemáticas da Guerra do Iraque, quando a estátua de Saddam Hussein foi derrubada pelos populares – para quem acompanhou o conflito pela televisão, é impossível não lembrar este acontecimento. À face da praça, poderás também visitar a Mesquita do 17º Dia do Ramadão. Uns quilómetros mais a norte, na direcção do centro, é tempo de parar da Praça Tahrir e no seu Monumento da Liberdade, erigido para comemorar a Declaração da Independência do Iraque, prestando tributo à nação moderna, mas também a todas as grandes civilizações mesopotâmias que a antecederam. A Praça Tahrir marca também o início da Bagdad Velha, um rendilhado de ruas pedestres, fachadas antigas e mercados de rua, naquele que é o distrito mais bonito e turístico da cidade.
Neste distrito, o melhor é mesmo deambular sem rumo por cada rua e viela. Este é um daqueles destinos que muitos não sonham sequer pisar, por isso vale a pena absorver cada detalhe. Pelo caminho, podes passar na Mustansiriyah Madrasah (25.000 IQD), uma escola islâmica histórica do período do Califado Abássida, a Mesquita Haydar-Khana e o Palácio Abássida (25.000 IQD), uma residência real do século XII, construída sobre a margem oriental do Rio Tigre. Ainda no centro, é absolutamente obrigatório visitar o Copper Market, porventura o bazar mais famoso e pitoresco de Bagdad, e percorrer a Rua Mutanabbi. Assim chamada em honra de um conhecido poeta local, este é o local onde concentram muitas das banquinhas de vendas de livros da cidade, e um excelente local para fotografar. É também ao longo da Rua Mutanabbi que encontrarás o Café Shabandar, uma autêntica instituição de Bagdad e um dos cafés mais bonitos e peculiares do planeta. Para fechar o dia, irás atravessar o Rio Tigre e explorar o Museu Nacional do Iraque (25.000 IQD), uma instituição que salvaguarda a história de algumas das civilizações mais ricas e culturais da história da humanidade. Infelizmente, muitos dos seus tesouros originais foram pilhados ao longo dos últimos períodos turbulentos, mas continua a ser um local que vale bem a pena visitar!
Resumo do 1º dia:
Despertando em Bagdad, recomendo que tires a manhã para explorar as tuas primeiras ruínas arqueológicas em solo iraquiano. Situado a cerca de 35 km da capital, Ctesiphon foi a capital do Império Sassânida durante largas centenas de anos, chegando até a ser a maior cidade do mundo! Infelizmente, invasões, guerras e a passagem do tempo acabaram por erodir quase todas as suas estruturas, sobrando apenas o Taq Kasra, uma ruína parcial do antigo palácio, também conhecida como o “Arco de Ctesiphon”. Não há transportes públicos até Madain, a cidade onde ficam situadas as ruínas, pelo que terás que recorrer aos serviços de um táxi privado em Bagdad. Pela viagem de ida-e-volta, mais uns 45 minutos de espera para poderes visitar o monumento, conta pagar 30.000/40.000 IQD pelo carro.
De regresso à capital, não podes perder a oportunidade de ver em primeira mão o Monumento dos Mártires (6000 IQD). Ordenado pelo próprio Saddam Hussein, este gigantesco memorial, famoso pela sua cúpula turquesa, tinha como grande propósito homenagear todos os soldados mortos durante a Guerra do Irão-Iraque, sendo hoje em dia dedicado a todos aqueles que, independentemente do conflito e circunstância, deram a vida pela pátria iraquiana. A partir daqui, recomendamos que peças um táxi na rua até ao próximo ponto do roteiro. No entanto, irás pedir expressamente que a viagem seja feita através da lendária Green Zone de Bagdad (daí não poderes pedir através de uma app, que simplesmente calcula o percurso mais rápido). Considerado o local mais seguro e guardado da cidade, onde se situam todas as embaixadas e edifícios governamentais, a Green Zone era mencionada em praticamente todos os noticiários durante o pico da Invasão do Iraque, sendo absolutamente proibido a pessoal não autorizado atravessar os checkpoints de segurança. No entanto, as condições de segurança estão bastante melhores e, por força do trânsito infernal durante as horas de ponta, passou a ser permitido carros não autorizados circularem no interior da Green Zone. Tem em atenção que não podes sair do carro ao transitar nesta área, mas se quiseres vislumbrar o Arco da Vitória e o Monumento ao Soldado Desconhecido, ou simplesmente poder dizer que já estiveste no interior da Green Zone de Bagdad, esta é a única forma de o fazeres!
Finalmente, a tua última paragem do dia será feita na Mesquita Al-Kadhimiya, o local mais sagrado de Bagdad e a introdução perfeita à devoção e etiqueta dos santuários xiitas. Os seguidores desta corrente islâmica acreditam na teoria dos 12 Imãs, um conjunto de sucessores espirituais do Profeta Maomé que devem ser venerados pelos crentes. É aqui que podes encontrar os túmulos do 7º e do 9º Imã deste grupo restrito, pelo que é um local de grande sobriedade.
Resumo do 2º dia:
Ao contrário da maioria da Iraque, que adere à corrente Xiita do Islão, Samarra é uma das poucas cidades de maioria Sunita. Por causa disso, depois de dois atentados consecutivos num santuário sagrado Xiita da cidade, atribuídos a Al-Qaeda (grupo terrorista Sunita), formou-se uma onda de violência sectária contra os Sunitas de Samarra, perpetrada por xiitas vindos de outros locais. Assim, para poupar a população local a mais violência gratuita, Samarra estava vedada a quaisquer forasteiros. Mesmo depois da flexibilização do regime de vistos, era necessário ter um contacto local para que pudesses entrar na cidade, sendo essa pessoa contactada pela polícia assim que chegasses ao checkpoint de acesso a Samarra. Sem contacto, nada de entrada! Hoje em dia, embora o contacto tenha deixado de ser obrigatório, Samarra continua a ser uma das cidades mais bem vigiadas do Iraque. A título de exemplo, não é permitido a estrangeiros pernoitar na cidade, sendo que, para além disso, para entrares em Samarra és obrigado a deixar o teu passaporte no posto de controlo, sendo-te o documento devolvido à saída.
No entanto, este é um inconveniente pelo qual vale bem a pena passar, ou não fosse Samarra o lar do espectacular Minarete de Malwiya! Construído em espiral, e envolto numa rampa que podes subir para uma vista espectacular sobre as redondezas, este minarete de 52 metros de altura é absolutamente único, sendo parte da integrante da lendária Grande Mesquita de Samarra, em tempos a maior do planeta. Hoje em dia, sobram apenas as paredes exteriores da mesquita, após o local ser completamente dizimado durante as invasões mongóis do Iraque, dando lugar a um complexo arqueológico digno de ser designado Património da Humanidade pela UNESCO. Numa nota importante, estão actualmente a decorrer intensos trabalhos de reabilitação do espaço, sendo por isso impossível subir ao minarete ou visitar o interior da mesquita. É previsível que a interdição se mantenha até final de 2024.
Depois de visitado o minarete, terás ainda tempo de passar no Santuário Al-Askari, o complexo religioso onde decorreram os atentados mencionados acima. À semelhança do santuário de Bagdad, aqui também estão sepultados dois dos famosos Doze Imãs – neste caso, o 10º e o 11º. Depois de terminado o teu dia em Samarra, e embora a transição lógica passasse por prosseguir para Mossul, o mais certo é teres que regressar a Bagdad. A não ser que queiras pagar um táxi privado para o dia todo, cujo motorista esteja disposto a fazer os trechos Bagdad-Samarra e Samarra-Mossul (+ tempos de espera e viagem de regresso do motorista a Bagdad), será praticamente impossível encontrares algum local que esteja a fazer exactamente os mesmos trajectos, com os mesmos timings, disposto a dividir o custo do táxi. Para além disso, lembra-te que tens que sair de Samarra pelo mesmo checkpoint por onde entraste para poderes recolher o teu passaporte, obrigando o motorista a voltar para trás e a rodear toda a cidade (sem entrar novamente) antes de seguir para norte rumo a Mossul. Regressar a Bagdad é a solução mais fácil e económica.
Resumo do 3º dia:
Considerada a capital do ISIS e seu último grande baluarte antes da queda definitiva (?) do grupo terrorista, Mossul é uma cidade totalmente delapidada pela guerra, com uma escala de destruição a fazer lembrar as cidades de Homs e Alepo, na Síria. À conta disso, não há muito para ver ou fazer em Mossul, mas a sua história, a antiga e a recente, fazem com que este seja um sítio imperdível no Iraque Federal. Posto isto, irás acordar bem cedo na capital iraquiana e começar o trajecto de mais de 400km até ao norte, para que tenhas a tarde inteira para explorar Mossul.
Chegado à nova cidade, irás notar que os níveis de destruição são completamente distintos consoante a margem do Rio Tigre onde estejas, com o lado oriental em considerável melhor estado. Deste lado, podes explorar o Bazar de Mossul, fotografar o que resta do Portão Mashki, o símbolo mais emblemático das ruínas assírias da cidade antiga de Nineveh, e passar na Mesquita do Profeta Yunus, também ela severamente danificada pelo ISIS. No entanto, a verdadeira destruição fica na margem oposta, em plena Cidade Velha de Mossul. Outrora um labirinto de edifícios clássicos, vielas estreitas, mercados vibrantes e mesquitas históricas, o quarteirão antigo, um dos mais velhos de toda a Arábia, é hoje um conjunto sombrio de entulho e carcaças, sendo o principal ponto de tensão durante a Batalha de Mossul (2017) e consequente libertação da cidade. No entanto, a vida vai voltando e, embora haja ainda um longuíssimo caminho a percorrer, estão a decorrer imensos projectos de reconstrução e renovação por toda esta área. Ao passeares pela cidade velha, não deixes de visitar o que restou da Grande Mesquita de al-Nuri e da Sinagoga de Mossul. Antes de dar o dia por terminado, aproxima-te novamente do Rio Tigre e dá uma vista de olhos na Mosuli Heritage House, um pequeno museu montado no interior de uma casa senhorial recentemente renovada, antes de te despedires de Mossul com um pôr-do-sol a partir das ruínas do Castelo Bash Tapia.
Resumo do 4º dia:
Com o sol a raiar em Mossul, é tempo de voltar a Bagdad antes de começares a explorar o sul do país. No entanto, a cerca de 100 km de Mossul, repousa um dos locais mais extraordinários de todo o Iraque: as Ruínas Arqueológicas de Hatra (25.000 IQD)! Reabertas ao público em Setembro de 2022, esta cidade é um verdadeiro museu a céu-aberto, tendo sido fundada há mais de 2000 anos e servido de capital ao Reino de Araba, um pequeno estado pertencente ao Império Selêucida, de génese grega. É precisamente essa mistura de elementos árabes e persas, dominantes na região, com influências gregas e romanas, por força do império a quem respondiam, que tornam Hatra um local absolutamente único no mundo!
Para poderes visitar Hatra, situada numa zona sensível, tens que comprar o teu bilhete de antemão em Mossul, no Departamento de Antiguidades de Nineveh. Se não tiveres bilhetes, não te será permitida passagem nos checkpoints mais próximos das ruínas. O custo de um táxi (ida-e-volta) desde Mossul, mais um período de espera para que possas visitar o local, deverá rondar os 80.000/90.000 IQD. Em alternativa, podes tentar negociar directamente uma viagem entre Mossul e Bagdad (onde pernoitarás), com paragem estratégica de 60 ou 90 minutos em Hatra. Esta será até uma opção mais barata, caso estejas a fazer o percurso com outros 2 ou 3 viajantes com quem possas dividir custos de transporte.
Resumo do 5º dia:
Quiçá o local mais famoso de todo o Iraque, hoje é dia de visitares a Babilónia (25.000 IQD), lendária cidade fundada há mais de 5000 anos! Pousada sobre as margens do Eufrates, a Babilónia já viu passar dezenas de civilizações, tendo sido conquistada por Acádios, Assírios, Persas e até pelo famoso Alexandre (o Grande), antes de entrar numa longa decadência que se arrastou por vários séculos. A título de exemplo, era aqui que podias encontrar a gigantesca Torre de Babel e os Jardins Suspensos da Babilónia, uma das Sete Maravilhas do Mundo Antigo. No valor do bilhete está também incluída a presença de um guia (se bem que uma gorjeta no final é sempre bem-vinda), que te acompanhará ao longo do trajecto pelas ruínas. Para chegares à Babilónia a partir de Bagdad terás que apanhar um táxi partilhado na Garage Allawi South e fazer transbordo em Al Hilla, a cidade mais próxima, situada a cerca de 10 km das ruínas.
Ao visitares a Babilónia, será impossível não reparares no edifício gigante e austero situado no topo de uma colina próxima. Esse edifício é nada menos que o Palácio de Saddam Hussein (ou melhor dizendo, um dos seus muitos palácios), e, pessoalmente, um dos meus sítios favoritos em todo o Iraque. Considerado um enorme “elefante branco”, na medida em que Saddam alegadamente apenas lá esteve meia dúzia de vezes, o palácio está hoje em dia deixado ao abandono, sendo diariamente invadido por grupos de crianças, adolescentes e pelo ocasional turista. Originalmente construído com todo o luxo digno de um sanguinário megalómano, o palácio foi totalmente pilhado após a queda do regime, sendo ainda assim possível perceber a magnitude da construção. As paredes, hoje em dia escancaradas, revelam as várias passagens secretas originais, ao passo que a escadaria principal está bloqueada com uma barricada de arame farpado e entulho, para evitar acidentes em pisos superiores. No entanto, se tiveres a sorte de apanhar um guarda de vigia, podes sempre pedir-lhe para te abrir a passagem secreta e deixar-te explorar os pisos superiores. Lá em cima, é possível ver os sinais do período em que as tropas americanas (e aliados) utilizaram o palácio como base de operações durante a Invasão do Iraque, com montes de rabiscos na parede assinalados com datas de 2003 e 2004. No meio disto tudo, não há como ignorar as vistas a partir de qualquer varandim e janela, com o Eufrates de um lado e as ruínas da Babilónia do outro.
No final do dia, terás que voltar a Al Hilla, e de lá apanhar um táxi partilhado até Karbala, onde irás passar a noite.
Resumo do 6º dia:
Caríssimos, se ainda não se estrearam nas lides das crenças Xiitas, este é o vosso dia! Afinal, e logo depois de Meca e Medina, ambas na Arábia Saudia, e da Mesquita de Al-Aqsa, em Jerusalém, Karbala é o local mais sagrado para os seguidores da corrente Xiita do Islão. Sem entrar em grandes detalhes, o cisma entre o Sunismo e o Xiismo advém da morte de Maomé, com uma facção dos seus seguidores e defender que o profeta deveria ser sucedido pelo seu sogro e fiel escudeiro Abu Bakr (Sunitas), e a outra pelo seu primo e genro Ali (Xiitas). Acontece que, muitos anos mais tarde, foi em Karbala que teve lugar uma gigantesca batalha que terminou com a morte de Husayn, filho de Ali / neto de Maomé, e 3º Imã do Islão Xiita. 1400 anos mais tarde, os seus restos mortais repousam agora no Santuário de Imam Husayn, e são o destino de peregrinação mais concorrido de todo o planeta, com dezenas de milhões de Xiitas a visitarem o local anualmente.
Para além de ser um local extremamente interessante do ponto de vista sociológico, permitindo-te observar tradições e rituais distintos, o próprio santuário é inacreditável, com os seus halls em vidro, tectos pintados e túmulos ornamentados. Tem também em atenção que toda a cidade gira em torno da mesquita e da sua santidade, pelo que este é um dos únicos locais em todo o Iraque onde é obrigatório vestires-te e comportares-te em conformidade com os preceitos do Islão. Para as senhoras, isto implica a utilização obrigatória de hijab e abaya. Para além disso, a segurança é particularmente reforçada, pelo que terás que passar por vários checkpoints e revistas até poderes efectivamente entrar no santuário. Quaisquer câmaras fotográficas terão que ser deixadas nos cacifos ou depósitos de bens, embora a utilização de telemóvel seja permitida. No entanto, e apesar de poderes fotografar o santuário (com o telemóvel), serás repreendido sempre que tentares filmar/fotografar os túmulos. Apesar de todas as normas, e assim que perceberem que és ocidental (e turista) prepara-te para virares uma verdadeira atracção, com muita gente a querer cumprimentar-te, tirar fotografias e dar-te as boas-vindas ao Iraque – extremamente simpáticos!
Ainda em Karbala, podes também visitar o Santuário de Al-Abbas, meio-irmão e porta-estandarte de Husayn, igualmente morto na Batalha de Karbala. Depois de explorares os inúmeros bazares das redondezas, é então tempo de voltar à estrada para a curta deslocação até Najaf, o próximo ponto do nosso guia de viagem do Iraque.
Resumo do 7º dia:
Continuando na senda das cidades sagradas, segue-se agora Najaf, um local com a mesma importância religiosa de Karbala. No centro de tudo, o Santuário de Imam Ali, onde repousa o túmulo do sucessor de Maomé de acordo com as crenças da corrente (conforme falado acima), e o 1º Imã do Islão Xiita. À semelhança de Karbala, também aqui se aplicam as mesmas normas de segurança, indumentária e conduta, bem como o furor que provavelmente farás entre os peregrinos enquanto ocidental (foi aqui que me tentaram oferecer dinheiro para comer e para alugar um quarto). Pessoalmente, gostei bem mais de Najaf, não só porque o santuário é mais agradável, mas principalmente pelo bazar em redor.
Para além disso, a cidade alberga também o Cemitério Wadi-us-Salaam, oficialmente a maior necrópole do mundo. No total, são mais de 6 milhões de corpos repousados numa imensa área de 6 quilómetros quadrados. Ao caminhar pelos túmulos, criptas e jazigos, amontoados em cima uns dos outros, é impossível não ficar impressionado com a magnitude do local. No entanto, para uma real perspectiva da dimensão do cemitério, recomendo que visites este local. Na verdade, trata-se apenas de um parque de estacionamento semi-decrépito, porém, se te deres ao trabalho de subir até ao último piso, serás recompensado com a melhor vista sobre este marco inacreditável! Já depois de almoço, é tempo de voltar à estrada para completar o trajecto de pouco mais de 3 horas até Nassíria, onde passarás a noite. Ao atravessares o checkpoint de entrada na cidade, é provável que te leve bastante mais tempo que o habitual. Isso deve-se ao facto de Nassíria albergar uma prisão de alta segurança onde estão detidos centenas de membros do ISIS. Apesar de, até há bem pouco tempo, todos os estrangeiros precisarem de um contacto local para poderem passar em Nassíria, esse requerimento já não existe, pelo que não tens com que te preocupar… só precisas de paciência!
Resumo do 8º dia:
Nassíria é uma cidade pequena e insuspeita, sem grande coisa para ver ou fazer. No entanto, é conhecida por ser a base perfeita para aqueles que desejam visitar as Arab Marshes, ou os Pantanais da Mesopotâmia, o meu local favorito em todo o Iraque e um dos sítios mais especiais que alguma vez visitei. É aqui que reside a tribo dos Marsh Arabs, uma minoria étnica Iraquiana que vive, literalmente, no meio dos pantanais. São uma sociedade bastante tradicional e conservadora, praticando uma filosofia de autossubsistência que passa, acima de tudo, pela agricultura, criação de gado (especialmente búfalos) e venda de têxteis. Este é, de resto, um factor a ressalvar no Iraque, onde franjas bastante densas da população ainda sabem perfeitamente qual a tribo a que originalmente pertencem, contribuindo ainda mais para uma segmentação da sociedade civil, já de si fortemente dividida por etnia, língua, credos, ideologias políticas e sectas do Islão. Neste caso específico, a divisão é acentuada pela perseguição a que os Marsh Arabs foram sujeitos por parte de Saddam Hussein. Uma vez que muitos dissidentes e opositores políticos se costumavam esconder nos pantanais e a tribo local organizou mais tarde uma tentativa de rebelião contra a descriminação a que, enquanto Xiitas (Saddam era Sunita), eram sujeitos, o sanguinário ditador tomou a decisão de drenar uma quantidade abismal destes pantanais. Quase 2/3, como retaliação pela sua ousadia. Como resultado, muitos Marsh Arabs foram obrigados a deixar as suas terras, fosse por falta de espaço para viver ou cultivar, sendo assim forçosamente obrigados a adaptar o seu estilo de vida ao da generalidade do país. Uma espécie de genocídio da sua cultura, tradições e modo de vida.
Para visitares os pantanais, é necessário apanhar um táxi partilhado até Chibayish (4000 IQD por pessoa para um carro cheio), onde podes pedir para te deixarem no Monumento dos Mártires, precisamente situado num cais onde é possível negociares um passeio de barco pelo ecossistema. Um tour de cerca de 60 a 90 minutos tem o custo de 30.000 IQD por barco, numa viagem a bordo de uma canoa tradicional, pertencente a uma das famílias de Marsh Arabs que ainda vive na região. Ao longo da visita, irás ziguezaguear pelos pantanais e navegar bem junto aos búfalos que a comunidade cria como modo de subsistência. Para além disso, vais poder atracar na ilha onde reside a família e assistir ao seu modo de vida, desde as práticas de agricultura às suas construções rudimentares em palha e vime. É uma experiência extraordinária, tanto pela beleza da paisagem como pelo interesse de uma realidade tão distinta daquela a que estamos habituados. Para aqueles que querem visitar o Iraque e se perguntam se vale a pena fazer um desvio tão grande só para visitar as marshes, a resposta é um rotundo sim!
Se saíres cedo de Nassíria, é provável que já tenhas terminado o tour dos pantanais ainda antes da hora de almoço, pelo que tens aqui duas hipóteses em aberto. Podes optar por regressar ao hotel em Nassíria e tirar a tarde para descansar; ou podes fazer um último esforço para tentar passar a tarde em Basra, a segunda maior cidade do Iraque Federal, situada perto das fronteiras com Kuwait e Irão. Apesar de não ser propriamente pródiga em pontos turísticos, Basra tem um centro histórico bastante bonito, com muitos projectos de renovação patrocinados pela UNESCO. Embora o quarteirão não esteja demarcado no Google Maps, a Cidade Velha de Basra fica situada junto às margens do Ashar, um canal afluente do Rio Shatt-Arab. Podes utilizar esta localização como ponto de referência, sendo um bom sítio para um passeio de exploração através das pontes antigas, das fachadas em pedra e das Shanasheel, casas senhoriais típicas da cidade, famosas pelos seus varandins cobertos em madeira. Se ainda tiveres tempo, recomendo também que visites o Bazar de Basra e a gigantesca Corniche (marginal junto ao rio), antes de terminares o dia no Museu Cultural de Basra, albergado no interior de mais um dos antigos palacetes de Saddam Hussein. Quando estiveres pronto para regressar à base, é tempo de apanhar um táxi partilhado e fazer a viagem de volta até Nassíria.
Resumo do 9º dia:
E eis que chegamos ao final da tua aventura por terras iraquianas! Pela frente, terás uma longa viagem até Bagdad, onde apanharás o voo de regresso. No entanto, nas proximidades de Nassíria, há ainda um sítio que não podes perder: o fabuloso Zigurate de Ur (25.000 IQD)! Os zigurates eram templos antigos construídos em altura e em formato de pirâmide, sendo bastante comuns nas regiões governadas pelos Sumérios. De todos os que sobram na região da Mesopotâmia, o Zigurate de Ur é o mais conhecido e bem preservado, apesar de já contar com mais de 4000 anos! Construído em honra de Sin, divindade da lua e deusa-protectora de Ur, o Zigurate chegou a ter uma altura superior a 60 metros, embora “apenas” 30 tenham sobrevivido até aos dias de hoje. Para os amantes de história e arquitectura, este é um dos melhores sítios para visitar no Iraque.
À semelhança das ruínas de Hatra, podes optar por contratar um táxi privado até ao monumento (25.000 a 30.000 IQD pelo carro completo, ida-e-volta + tempo de espera) e, depois de regressares a Nassíria, apanhar um táxi partilhado no depósito local até Bagdad; ou, se estiveres a viajar com mais 2 ou 3 pessoas, negociar logo à partida a viagem até à capital, com direito a desvio no Zigurate de Ur. Independentemente da escolha, estarás de volta a Bagdad pelo finalzinho da tarde, dando-te amplo tempo para jantar e iniciar o percurso até ao aeroporto, uma vez que a maioria dos voos internacionais parte ao final da noite / início da madrugada.
Resumo do 10º dia:
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