A chegada à misteriosa Arábia Saudita – Primeiras (im)pressões 🇸🇦

  • 15.01.2023 23:00
  • Bruno A.

Nova crónica do nosso editor pelo Médio Oriente, desta vez a reportar a sua tumultuosa chegada à Arábia Saudita, um país que ainda há 4 anos estava completamente fechado à maioria de nós. Um olhar curioso e inquisitivo sobre um destino extremamente difícil de decifrar e que está a dar os seus primeiros passos na cena turística. Tomara que tudo isto sejam apenas dores de crescimento!

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Ao fim de 4 semanas pela Jordânia, foi tempo de dizer adeus ao Reino Hachemita e trocar de ares. Confesso que esperava mais do país, mas acabei por me deixar afectar pelo quotidiano aborrecido de Amman. Uma semana mais caseirinha numa cidade pouco amiga dos pedestres e sem muito para fazer ainda se aguenta, mas ao fim da quarta, confesso que já estava a contar os dias para ir embora.

Segue-se então a Arábia Saudita, um país que goza de uma fama muito pouco abonatória e cujas cidades e cultura são ainda – pelo menos do ponto de vista turístico – um enorme ponto de interrogação. Afinal, e durante largas décadas, o país pura e simplesmente não admitira sequer a hipótese de emitir vistos turísticos! Como tal, os únicos estrangeiros com acesso ao país até então eram os que vinham em trabalho, por razões familiares (leia-se: estrangeiros casados com sauditas) ou por motivos religiosos, nomeadamente para cumprir a peregrinação até Meca ou Medina, as duas cidades mais importantes do Islão.

O visto para a Arábia Saudita

Felizmente, a situação mudou em 2019, quando a Arábia Saudita anunciou oficialmente que começara a emitir vistos turísticos, num ímpeto inicial que acabou por ser travado pela pandemia. Mas agora que o pior parece ter ficado para trás, o país apresenta-se mais aberto que nunca, tendo até implementado a partir de Setembro de 2022 um programa de visa-on-arrival para cidadãos da EU. Independentemente da modalidade (online, à chegada ou na embaixada) o visto tem sempre o valor de 480 SARS (120€), incluindo já um seguro obrigatório.

Aqui está algo importante que deves saber sobre mim no âmbito desta crónica: no que a detalhes de viagem diz respeito, sou aquilo a que se pode chamar “um chato do caraças” (à vontade para mudar o sufixo, se também fores do Norte). Nem sempre foi assim, mas a verdade é que nos últimos 3 anos já acumulei vários contratempos em viagem que me obrigaram a regressar antecipadamente face aos planos que tinha (2 por covid, 1 à conta de um assalto). Desta feita, estou determinado a cumprir o meu plano até ao fim!

Posto isto, é importante ressalvar que a abertura recente da Arábia Saudita aos circuitos turísticos traz também consigo um obstáculo adicional… falta de informação! Digamos que é mais difícil encontrar informação completa e actualizada sobre a Arábia Saudita na web do que um vídeo do Ronaldo a celebrar um golo de um colega de equipa. Assim, tudo o que encontrei relativamente à validade do visto à chegada ou do evisa (visto online) em fronteiras terrestres ficava numa área particularmente cinzenta. Uns dizem que os regimes são válidos em qualquer fronteira, outros que só para quem voar para o país. Uns dizem que há uma excepção para a fronteira com a Jordânia, outros que essa excepção existe, mas afinal é para o Bahrein. Como disse, uma confusão!

Se aliarmos a minha desconfiança crónica ao facto de os preços dos voos serem um roubo, está fácil de perceber que os dias anteriores à minha entrada em território saudita por terra não foram propriamente os mais descansados. Aliás, só depois de ter uma mensagem privada no Twitter do Ministério do Turismo Saudita, um e-mail do programa oficial de vistos e por fim uma confirmação dessa informação em pessoa na embaixada, é que consegui baixar a guarda (bem, kind of).

A viagem entre Amman e Jeddah

Autocarro Cabo Verde

Com a mesma confiança com que a minha avó me passava uma nota de 20€ e perguntava se não chegava para 5 pães, lá fui eu à Avenida Abdali, em plena Amman, procurar um autocarro que me pudesse levar a Jeddah. Bastou entrar nos primeiros dois escritórios, bonitos e modernos, para me começar a questionar se não teria sido melhor marcar um voo – 70 JOD (91€), foi o valor pedido por cada bilhete. Mas à terceira foi de vez! Desta feita, entrei num escritório de vão de escada que poderia ser descrito como um crossover entre um gabinete do Saul Goodman e uma sala de horrores do Jigsaw. I kid you not – havia até um beliche por detrás do balcão! No entanto, o preço era imbatível, a 25 JOD (32,50€) por bilhete. Dito e feito, estava encontrado o nosso vencedor!

Curiosamente, no dia da viagem, o tipo limitou-se a acompanhar-me até um dos escritórios finos e comunicar-lhes que ia embarcar no próximo autocarro deles para Jeddah. A mesma viagem e o mesmo autocarro, por praticamente um terço do preço! Por azar, o preço foi mesmo a única parte boa para contar. Se já estava preparado para o facto de que a viagem seria desconfortável e longa – com a previsão de 18 horas – a verdade é que já nem sabia a quantas andava quando finalmente desembarquei em Jeddah… 26 horas depois!

No entanto, confirma-se a informação que me tinha sido dada! Aliás, não só é possível obter o visto à chegada em qualquer fronteira terrestre, como o mesmo tem uma validação de 90 dias e permite entradas múltiplas.

Arábia Saudita – Primeiras Impressões

Sem contexto, quem pensa na Arábia Saudita pode conjurar imagens de um país quente e gigantesco, onde o petróleo é extremamente barato e a sociedade regida por valores extremamente tradicionais.

Se também tu tens esta imagem estereotipada da Arábia Saudita, então tenho-te a dizer que estás… bem, correcto! Claro que nem tudo é preto ou branco, mas a realidade é que é impossível não notar a desproporcionalidade brutal entre o número de homens e mulheres nas ruas. Senhoras sem hijab, niqab ou chador? Em 99% das situações, apenas a minha! Tendo tido já a oportunidade de visitar locais bastante tradicionalistas, não hesito em apontar a Arábia Saudita como o país mais conservador onde estive até ao momento. Não pretendo apontar sequer isto como um julgamento (lá chegaremos numa futura crónica), mas apenas como um facto. Facto esse que o actual Príncipe-Herdeiro tem vindo a esforçar-se para mudar, impondo uma série de reformas sociais na tentativa de abrir o país ao exterior.

Deixando o conservadorismo de parte, outro aspecto que me surpreendeu é a relativa inexistência e pobreza de infraestruturas turísticas. Se – como eu – estás à espera de uma versão ainda em crescendo de um Dubai, ajusta as expectativas e imagina um Egipto um pouco mais avançado. Por outro lado, as rodovias são absolutamente espectaculares, e as estradas parecem sempre estar em boa condição, por mais botas que Judas tenha perdido no sítio onde passas. À semelhança de Amman, também Jeddah é uma cidade programada para a utilização de automóvel e o sistema de transportes públicos é praticamente inexistente. No entanto, e ao contrário da primeira, Jeddah é plana, e o sistema de estradas parece extremamente bem desenhado, ajudando os transeuntes a percorrer distâncias relativamente longas num curto espaço de tempo.

Outra coisa que me surpreendeu ao fim de alguns dias é o enormíssimo número de imigrantes que vivem na Arábia Saudita. Não falo de Europeus ou Americanos a trabalhar nas áreas da tecnologia, indústria ou saúde, mas sim dos muitos milhares de pessoas provenientes de Paquistão, Bangladesh, Nepal, Iraque, Yemen, Indonésia ou Filipinas, muitos em busca de uma oportunidade que lhes permita enviar algum dinheiro para a família nos seus países de origem. Trabalham normalmente em funções menos qualificadas, seja em supermercados, hotéis ou postos de abastecimento, e acabo até por ter mais contacto com eles no quotidiano quanto o que tenho com os sauditas.

Por fim, resta mencionar que o país é, efectivamente, caro. Restaurantes, hotéis, supermercados, entretenimento. Tudo a um custo superior ao que consegues habitualmente encontrar em Portugal. No entanto, devo admitir que atestar o depósito com 20€ tem outro sabor.

Arábia Saudita – Primeira Pressões

Termino com a primeira história mirabolante em terras sauditas.

Um dia antes de sair da Jordânia, deixei uma mensagem ao meu host de Jeddah a perguntar como funcionaria o processo de check-in assim que chegasse ao país. Curto e grosso, respondeu-me que todos os detalhes seriam enviados com 24 horas de antecedência.

Muito bem – pensei eu – nada com que me preocupar. Mas as horas foram passando, e nas raras ocasiões em que conseguia aceder ao wi-fi do autocarro, nada de mensagem de follow-up, ou qualquer resposta às minhas mensagens posteriores. Chegado a Jeddah, e sem sítio para onde ir, abanquei numa Starbucks com as trouxas às costas, depois de uma directa e 26 horas num autocarro. 3 horas e – admito – algumas mensagens de pânico depois, o gajo finalmente dignou-se a responder e a enviar as instruções. “Ok, menos mal. Talvez tenha sido só um percalço”.

À medida que ia buscar o carro alugado ao aeroporto e conduzia até à morada do apartamento, o mesmo pensamento intrusivo continua a invadir-me a mente. “Por favor, que não seja um buraco. Por favor, que não seja um buraco. Por favor, que não seja um buraco”. Era um buraco.

Meus amigos, e só para contextualizar, a minha senhora costuma dizer – meio a brincar, meio com uma fúria no olhar – que desde que haja net e um forno para cozinhar, eu podia literalmente ficar em qualquer barraco. Já ficámos em apartamentos antigos, casas com baratas, blocos soviéticos, mais casas com baratas e até caves de moradias. Sempre sem problemas (da minha parte, entenda-se).

Mas este apartamento era todo ele um caso à parte. Internet? Não funcionava. Espaço? Diferente do das fotografias. Cozinha? Mal equipada, sem nada do que habitualmente é preciso para se fazer uma simples bolonhesa de soja (sim, somos desse tipo de gente). Limpeza? Digamos apenas que para colocar este apartamento em ordem era preciso recorrer a um daqueles serviços de limpeza de cenas de crime. Nem a Marie Kondo se safava ali! Como cereja no topo do bolo, duas toalhas de banho amarrotadas e penduradas atrás da porta, completamente manchadas com aquilo que mais parecia ter sido o jantar que alguém comeu há 2 dias atrás. Há imagens, mas acho que o João não está na disposição de arriscar um processo legal por vos fazermos perder o almoço! Resumindo e concluindo – era impossível ficar ali!

Seguiram-se 24 horas de procura intensiva de um local para ficar durante o mês inteiro, visitas a apartamentos e longas conversas com o apoio ao cliente do Air BnB. Houve duas sem três, mas à terceira não foi de vez, quando o destino nos levou a uma casa que – a julgar pelo aspecto e disposição – parecia ter acabado de levar um selo de aprovação de um empresário agrícola de Odemira.

Finalmente, e ao quarto apartamento visitado, parece que atingi o jackpot. Sure, fica a 20km do centro, a cozinha cheira um bocado a mofo, as únicas toalhas que há são descartáveis (yap, parece que isso existe por cá) e ocasionalmente o banho tem que ser a água tépida, mas depois das coisas que vi naqueles dois dias, quase parece um palácio!

A minha primeira impressão batia certo e as infraestruturas ficavam, de facto, a desejar. Resta desejar que as (im)pressões fiquem por aqui.

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