“O meu destino favorito (até agora)” 🌎 – Por Daniela Berrincha, Blog 100 Fronteiras

  • 05.05.2023 14:50
  • Daniela

Nesta nova rúbrica convidamos outros bloggers / criadores de conteúdo de viagens do nosso país a escrever sobre o(s) seu(s) destino(s) favorito(s). Este primeiro artigo chega-nos pela mão da Daniela Berrincha, do Blog 100 Fronteiras!

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“Qual é o teu destino preferido?”

Talvez esta seja a pergunta mais ingrata de fazer a quem gosta de conhecer muito mundo. Chega a uma certa altura em que é impossível dizer com assertividade que se tem um único país preferido. Pode parecer cliché, mas cada viagem é uma viagem, cada destino dá-nos sensações, aprendizagens e histórias muito distintas. Só o facto de acontecerem em continentes diferentes, com durabilidade diferente, faz com que os pratos da balança andem para cima e para baixo sem encontrarem um equilíbrio único. Quando penso nisto a fundo, começam a surgir dezenas de memórias na minha cabeça, em jeito de rodopio acelerado, de sítios completamente misturados.

Devo dizer que este desafio se tornou numa reflexão bastante profunda e, apesar de não ter resposta certa, tive de optar por um. Se não tivesse grande tempo para pensar, de forma impulsiva responderia, quase de certeza absoluta, que o meu país predileto é a Tailândia. A viagem ao país dos sorrisos começou da pior maneira possível e imaginária. Ainda que imprevistos aconteçam e que estejamos cientes disso, ninguém está preparado para ficar em terra no preciso momento de embarcar para o avião… Pois bem, foi mesmo isso que me aconteceu. Caíram lágrimas, suor e muitos euros da conta bancária. Foi um pesadelo real tão negro que ponderei não avançar com esta aventura que era um sonho. Ainda bem que a lucidez voltou a mim e fui. Nada é perfeito, até o ser.

A Tailândia foi perfeita do jeito que foi. Vivi momentos de pura felicidade e reencontrei uma paz interior que há muito desejava voltar a sentir (por esta altura passava uma fase pessoal delicada). Não tinha de apanhar aquele avião. Ponto. Por muitas voltas que dê ao mundo, que espero dar tantas quanto puder, jamais esquecerei esta viagem! Também ficou um ensinamento vincado: o dinheiro volta, o tempo nunca se recupera. Já defendia que temos de viver a vida de forma intensa, concretizar os nossos sonhos e não bater na tecla do “um dia faço” ou “um dia vou”. Faz agora!

Tendo a Tailândia me dado tanto, cheguei à conclusão que só há um país que já me deu mais: Marrocos. Este é uma relação de quase amor que tem vindo a crescer a cada regresso e que tem uma grande tendência a aumentar.

Há quem seja apologista de que “não devemos voltar aos lugares onde fomos felizes”, mas eu não sigo essa ideologia e já regressei a praticamente todos os 40 países que visitei. Com tanto mundo para ver, chamem-me louca por isso, mas cada um com as suas.

Não sei qual o motivo, mas sempre criei a ideia de que queria visitar Marrocos em grupo. Não por achar inseguro ou com falta de capacidade em organizar a viagem por conta própria, simplesmente achei que seria mais interessante assim. O que não me passava pela ideia é que o iria fazer, com um grupo meu! O que jamais poderia calcular é que iria voltar várias vezes desta forma.

Foi em 2019 que fui a Marrocos pela primeira vez. 10 dias de norte a sul, com passagem por 15 cidades/localidades. Este circuito era bem mais recheado do que eu ambicionava e a aventura tornou-se ainda maior por todo o trajeto ser feito de autocarro. Sim, de Lisboa a Marrocos de autocarro! Lembro-me perfeitamente da primeira vez que pisei o solo em Chefchaouen, o primeiro ponto desta epopeia. Também me recordo perfeitamente que cinco minutos depois estava a entrar na casa de banho de um café, olho e não vejo sanita, porque aqui o comum é estar um buraquinho no chão… Mas em Roma sê romano. O que não tinha calculado é que este café era frequentado apenas por homens, pelo que, quando saí, estavam vários senhores a olhar para mim com um ar um pouco indignado. Acho fascinante Marrocos estar aqui tão perto, de tal forma que é possível ir de autocarro, e ter uma cultura tão diferente da nossa!

Chefchaouen é a cidade com mais cor que já visitei. O azul é vivo e dá vida a cada ruela, misturam-se depois outros tons que lhe fazem contraste com as mil e uma bugigangas que decoram as entradas das lojinhas de rua. Estas vão abrindo à medida que nasce o dia e isso é sinal, para mim, que a viagem começou. Parece um postal com movimento de tão fotogénica que é!

A maioria das vezes vamos a um país e ficamos apenas pela capital ou na cidade mais popular, pouco nos embrenhamos noutros pontos e isso acaba por nos dar uma falsa sensação de que conhecemos o mais importante. Marrocos dá-me a certeza que isso é completamente errado. Por exemplo, Mèknes, uma das quatro Cidades Imperiais, levanta a pontinha do véu do que é a confusão de um mercado, do trânsito, do dia a dia. Por isso é que quando cheguei a Fez já não estranhei completamente todos os ruídos e as ultrapassagens desmedidas de pessoas, carros, motas, cavalos e burros pelas ruas labirínticas da medina.

Nessa minha primeira visita, Fez foi a que mais me cativou. Talvez por me parecer mais autêntica, desafiante ou simplesmente esperar pouco dela. Aqui tudo se faz de forma rudimentar, desde os tecidos para os lenços que cobrem a cabeça no deserto, a cada pontinha de azulejo esculpido a martelo que decora as fachadas dos palácios, das fontes ou o interior dos hotéis e, acima de tudo, os curtumes, que é o modo de tratar e tingir as peles. Tudo o que se faz nos vários ofícios é vendido nas mais de 5 mil lojas, por entre as 13 mil ruas, misturadas com as mais de 22 mil casas, que fazem desta a maior medina do mundo. Parece de doidos? É tal e qual assim. Não há como entender onde é a entrada e a saída. Os cheiros bons misturam-se com os maus, tudo fica envolto em confusão e é isso que faz aquele friozinho na barriga que me leva a gostar tanto de sair de casa. Por aqui já tive histórias completamente hilariantes, como andar com umas dez pessoas nas traseiras de uma espécie de tuk tuk meio clandestino, ou fazer uma aula de ioga no terraço do hotel ao mesmo tempo que bebia cerveja. Aqui, tudo vale.

Por outro lado, não posso tirar crédito à frenética e inigualável Marraquexe. Há sítios que têm fama, mas o proveito também lhes é merecido. A Jeema El-Fna, a praça principal desta grande cidade, é dos sítios mais peculiares por onde se pode andar. De manhã é uma coisa, à tarde outra e à noite ainda consegue mudar de figura. Contado ninguém acredita. Um dia vou ter tempo suficiente para me sentar num canto e ficar umas horas só a observar. Não há um segundo em que o panorama seja o mesmo. Todos os dias se montam e desmontam as tendas de comida e bebida, não sei como há paciência nem perícia para isso. A cozinha improvisada, a montra dos alimentos, as mesas, os bancos, os toldos… Passam meio dia a acartar, martelar, preparar, para depois voltar a desmontar, martelar e acartar. Há sempre aquela música do encantamento das serpentes de fundo, acompanhada de outras músicas e misturada com buzinadelas. É muito mais fácil, para nós turistas, nos orientarmos nesta medina. Apesar de centenas de ruas paralelas e perpendiculares, dá para fazer vários caminhos em linha reta e ir explorando com menos probabilidade de nos perdermos pelo caminho em comparação com Fez. Tudo se vende e tudo se compra, literalmente tudo, como dentaduras postiças!

Não interessa quem é mais adepto de enfeirar, aqui todos somos levados pela tentação de levar o que é preciso e o que não faz falta. Regatear faz parte da cultura marroquina e entra-se num jogo de despique quase como se fosse para passar de nível. Eu adoro regatear! Adoro levá-los ao limite da última oferta e do virar de costas com a ânsia que me voltem a chamar para aceder à minha proposta. Eles sabem e dizem que “português bom coração, mas pouco dinheiro”.

Há algo que é bastante curioso. A ideia geral é que o povo marroquino é de pouca confiança, que vai tentar enganar à primeira oportunidade e que não é seguro andar sozinho, sobretudo para as mulheres. Já levei umas 100 pessoas a Marrocos e no final, quando pergunto o que mais surpreendeu, praticamente todos respondem: as pessoas. Não é só o português que tem bom coração, os marroquinos também têm! Já me provaram isso vezes e vezes sem conta. Gostam de ajudar, de receber, de cuidar e, sobretudo, que digamos que gostamos deles e que vamos voltar. Já recebi muitos abraços por dizer que vou regressar e já recebi muitos abraços por efetivamente ter voltado.

É imperdível ver o pôr do sol de um dos terraços em volta da Jeema El-Fna. Enquanto o dia vai acabando, a praça ganha mais movimento e agitação. Mais barulho, mais pessoas, mais motas, mais animais. Por essa hora ouve-se dos minaretes o chamamento para a penúltima reza do dia. Só de uma vez contei no meu ângulo de visão nove mesquitas, com destaque para a bela Koutobia. É fascinante assistir a tudo isto num mesmo momento! Marraquexe é mais do que este ponto central, mas para mim, é aqui que está toda a essência. Entretanto é possível que as memórias de alguns estrangeiros tenham sido um pouco afetadas pela tugolândia… É que uma certa noite, num restaurante temático, só se tocou e cantou música portuguesa. Fazemos festa em todo o lado! Lamentamos, sem lamentar.

Perguntam-me muitas vezes o que recomendo visitar em Marrocos e a minha resposta, essa, é sempre a mesma. Marrocos não é só as grandes cidades. O Vale do Ziz, um oásis de mais de 20km, as magníficas Gargantas do Todra que chegam a ter 400 metros de escarpa, ou as montanhas recortadas do Alto Atlas, são igualmente de deixar o queixo caído, tal como Ait Ben Haddou, que é magnífica e nem sempre fica em rota. E se falamos de natureza, as Cascatas de Ouzoud, as maiores do norte de África, são dos cenários mais belos de admirar por estas terras.

A paisagem muda a cada instante, as cores, as temperaturas, o ritmo de vida. É uma viagem a várias velocidades e em vários tempos. O norte é exemplo disso mesmo, Assilah e Tânger têm características muito vincadas que ainda demonstram a passagem dos Ibéricos por aqui. A arquitetura não deixa margem para dúvidas, por momentos parece que estamos nas pequenas vilas do Algarve ou do sul de Espanha.

No meio de tanto, há algo maior do que tudo. O deserto do Sahara continua a ser dos sítios mais bonitos que já vi. É incrível como é que o nada pode ter tanto. Chegam a faltar palavras para o descrever, embora todas as sensações estejam a ser postas à prova. São as dunas de formações perfeitas, o toque dos pés na areia de tonalidade laranja torrada, a brisa, o calor, o silêncio, tudo isto numa combinação perfeita que preenche a alma. O pôr do sol é um momento muito especial, mas o nascer consegue superar. É a mudança das cores, da temperatura, é o recomeçar de um novo dia e o sentimento da concretização de um sonho. Digo mesmo que toda a gente devia poder ter a oportunidade de viver esta experiência uma vez na vida! O que se sente aqui é impagável.

Guardo neste deserto momentos que jamais esquecerei. A festa noturna com os berberes a cantar e a tocar à volta da fogueira, nós a dançar. Uma vez bati tantas palmas que já me doíam as mãos, mas era incapaz de parar. Já me deitei no cimo de uma duna, debaixo de um céu completamente estrelado. Estávamos cinco, sem proferir uma única palavra, mas a compartilhar um dos momentos mais intensos que já vivi em viagem. É possível que me tenha caído uma lágrima, mas é certo que agradeci ao universo por estar ali. Também já dancei sozinha enquanto esperava que o sol nascesse. O objetivo era apenas aquecer, mas tornou-se tão profundo que agora vou buscar esse momento naqueles dias em que me apetece atirar tudo ao chão. Já andei pelas dunas a alta velocidade na caixa aberta de uma carrinha. O dia mal tinha começado e eu sentia que já tinha vivido por uma vida. Às vezes digo que gostava que vissem o que eu vejo e sentissem o que eu sinto. Muitas dessas vezes seriam vivências neste deserto. Não as conseguindo passar de forma real e palpável, resta-me dizer que este local, que é nada mais do que areia, já me fez viver momentos extremamente felizes.

Depois de quatro idas a Marrocos, três delas a visitar exatamente os mesmos sítios, questionam-me muito se não estou farta. Como poderia estar? A cada ida aprendo mais sobre a cultura, educação, religião e o mundo árabe no geral. Nesta última vez coincidiu com o ramadão e foi muito enriquecedor. A cada ida também vou tendo mais contacto com a língua, aprendendo mais palavras e, a curiosidade é tanta, que estou seriamente a pensar em aprender árabe, pelo menos o básico. A cada ida ganho mais entusiasmo para voltar e explorar mais. Tenho tanto para conhecer! E, depois de toda esta componente, ainda existe a humana. Para mim quem faz os sítios são as pessoas. Qualquer viagem fica mais rica se tivermos alguém que se cruze nela. Eu tenho tido a sorte de ir com muitas pessoas, completamente diferentes entre si, em que cada uma delas dá um contributo à aventura. Todos os momentos que fui relatando, e outras dezenas que podia relatar, aconteceram em anos diferentes.

Marrocos é para mim um livro com páginas já escritas por aqueles que foram e outras por escrever por aqueles que possivelmente estarão para ir. Marrocos começa a ser uma casa em que abro os braços para receber novos amigos. É o país onde certamente irei voltar muitas vezes, mas se por acaso não fosse mais vez nenhuma, já me tinha dado memórias e experiências suficientes para guardar para todo o sempre. 

Habibi, Marrocos

(tradução: Meu querido, Marrocos)

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