Omã, o melhor destino de que nunca ouviste falar 🇴🇲

  • 30.03.2023 15:59
  • Bruno A.

Para a despedida oficial da Península Arábica, e antes da entrada no “temível” Irão, o nosso editor deixa-nos um conjunto de diários de bordo escritos durante a sua passagem por alguns dos locais mais populares do Omã.

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Há países com boa reputação, e países onde a mera intenção de uma visita é suficiente para franzir sobrolhos alheios. Irão, Iraque, Síria, todo e qualquer país acabado em “-istão”. No entanto, muito poucos são os países acerca dos quais o público não sabe praticamente nada.

(In)felizmente, o Omã é um desses países. Sempre que comentei com familiares que esta seria uma das minhas paragens, invariavelmente recebia perguntas como “o que é isso?”, “isso fica onde?” ou – a minha preferida – “mas isso é um país?”. Sim, é um país… mas não um país qualquer! Bem-vindos ao Omã, provavelmente, o melhor destino de que nunca ouviste falar!

Muscat, a capital do Sultanato

Costumo dizer que Muscat foi a minha base ao longo do último mês, mas a verdade é que, do ponto de vista técnico, estou a mentir. Na realidade, o apartamento que aluguei para estas 30 noites fica situado em Seebe, um subúrbio da capital, a cerca de 50-60km do centro histórico.

Talvez por isso, não tenho para com Muscat uma relação de especial proximidade. Curioso, ou não estivesse este país, e em particular esta cidade, repleto de vestígios da passagem de tantos navegadores, guerreiros, exploradores e comerciantes portugueses. Assim que entro no Museu Nacional do Omã, é impossível não reparar nas muitas maquetes de caravelas portuguesas, com a habitual Cruz de Cristo estampada nas velas. Ao todo, foram quase 150 anos de controlo português nesta região, monopolizando assim todas as rotas comerciais ao longo do Golfo Árabe, do Golfo do Omã e do Estreito de Hormuz.

Lá fora, dois imponentes fortes em adobe guardam a boca da baía junto ao quarteirão mais antigo de Muscat. Surpreendentemente, ambos foram construídos por Portugal. Apenas dois exemplos da imensidão de fortes, castelos e estruturas defensivas que os nossos antepassados construíram ao longo da costa, como forma de protecção e de vigia.

Um pouco mais a oeste, atrevo-me pelo quarteirão de Muttrah, na minha opinião, a zona mais bonita de Muscat. Passeio pela habitual confusão de um souq árabe, exploro ruas e vielas flanqueadas por casinhas caiadas de branco e ainda tiro 10 minutos para visitar o Mercado de Peixe local. Quem não acha piada são os comerciantes, que me atiram olhares indiscretos de que cada vez que me aproximo das bancas para uma foto.

Pelo meio da confusão, faço um desvio pelas ruas anteriores e, antes que me aperceba, estou a percorrer as ruelas labirínticas de Sur Al Lawatia. Hoje em dia, este quarteirão parece perfeitamente imiscuído na restante paisagem. No entanto, e ainda há menos de 10 anos atrás, a situação era bem diferente. Casa de uma comunidade tribal xiita ultraconservadora, descendente de poderosos comerciantes iranianos, este bairro esteve durante séculos fechado a não moradores. Ainda hoje, é perfeitamente possível detectar as zonas onde outrora estavam montados os portões de acesso, responsáveis por manter afastado qualquer forasteiro como eu.

Mas os tempos mudam, e até a tribo de Sur Al Lawatyah acompanhou o processo. Na verdade, o Omã é muito isto. Se o Dubai deitou por terra toda a sua cultura nativa em prol do investimento estrangeiro e a Arábia Saudita ainda se vai agarrando às suas tradições e visões arcaicas, a sociedade Omani é a ponte perfeita entre dois mundos extremos. É tradicional sem ser castradora. Moderna sem ser descaracterizada. Religiosa e ditatorial sem ser opressiva.

Nizwa e Jebel Shams

Chego a Nizwa ao início da tarde, pronto para mais um turno de trabalho. Este quarto de hotel – bem jeitoso, por sinal – será a minha “casa” para os próximos 2 dias, que coincidirão com as minhas folgas. Pelo caminho, desde Muscat (ou devo dizer, Seebe), faço paragens estratégicas no Forte de Sumail e na cidade abandonada de Birkat Al Mouz. Muito giras, mas não bem para isto que cá vim.

Para a manhã seguinte, espera-me uma viagem até Jebel Shams, a maior montanha do Omã. É lá que tentarei completar a Balcony Walk, porventura o trilho mais famoso de todo o país. Com uma duração de 3 a 4 horas, o trilho conduzir-me-á em redor do Wadi Ghul, um desfiladeiro absolutamente estrondoso e que ganhou o epíteto de “Grand Canyon do Omã”.

A noite foi mal dormida e acordo em sobressalto. Nunca me sinto confortável em zonas de montanha. Talvez por não me ter sido uma topografia familiar ao crescer, há algo de inerentemente estranho ao acto de estar num meio destes. Caminhar é desconfortável, conduzir é desconfortável, até o pré-planeamento – adivinhaste – é desconfortável. Quando sei que vou para a montanha, raramente durmo descansado no dia anterior.

Jebel Shams foi um desafio engraçado. Para começar, foi a primeira que me pus ao caminho totalmente sozinho, o que criou um natural pico de ansiedade. Depois, o próprio caminho para chegar ao trilho é todo ele um filme. Dos últimos 15km até ao início do percurso, apenas 4 são alcatroados. O problema? Alugar um 4×4 seria demasiado caro, por isso decidi pôr-me à prova num carro… Mais modesto! Em resultado, demorei quase 1 hora a fazer os primeiros 8km não pavimentados. Para os últimos 3, nem sequer arrisquei e fui a pé. Ao longo do caminho, só me lembrava do tipo que me alugou o carro para o mês, a dizer expressamente que não podia levá-lo ir para a montanha. Um clássico!

Custou, mas fez-se. O carro chegou ao destino, e, mesmo desconfortável, lá fiz parte do trilho da Balcony Walk. Confesso que ainda não foi desta que fiz as pazes com a montanha. As vistas são fenomenais, mas nunca consegui afastar aquele pensamento intrusivo que me impede de desfrutar da experiência a 100%. Se a experiência compensa a ansiedade? Sinceramente, não tenho a certeza. Mas mais do que as paisagens ou os trilhos, talvez o verdadeiro ponto alto seja a descarga de alívio e adrenalina que sinto sempre que a missão foi cumprida. Porque até o medo pode ser um vício.

De regresso a Nizwa, coberto em poeira dos pés à cabeça, consigo finalmente tomar um banho e relaxar. O pior já tinha passado. Para lá do seu souq e centro histórico, a antiga capital do Omã é uma base excelente para explorar o protectorado de Ad Dakhiliyah. Para além dos locais já mencionados, aproveitei ainda o dia seguinte para visitar as ruínas arqueológicas de Harat Al Bilad, o Castelo de Jabreen, a vila histórica de Misfat al Abryyin e o impressionante Forte de Bahla, o mais grandioso de todos os 5247851 fortes do Omã (e se calhar falhou algum na contagem).

Wadi Shab

Crescemos a ouvir falar de desertos, países exóticos lá ao longe, os camelos, as palmeiras, as dunas intermináveis, as miragens e os oásis. O conceito de miragem parece uma invenção, mas a verdade é que, por vezes, quando o sol atinge o ponto mais baixo e quase faz derreter o alcatrão, a estrada cria uma ilusão de óptica muito peculiar e vejo o que parece ser a estrada inundada a uns metros de distância. À medida que o carro avança, porém, avança também aquele reflexo luminoso e nunca chego a alcançar aquele aparente corpo de água esquivo.

Que partida cruel – imaginar que me perderia no deserto e, enfeitiçado por miragens pouco fidedignas, poderia andar em círculos à procura de um oásis que nunca chegaria a ser. Felizmente para mim, estas aventuras têm sido sempre mais sobre me encontrar do que sobre me perder

Da mesma forma que pensava que a miragem era uma invenção, uma narrativa melodramática criada e perpetuada pelo cinema, também pensava que o conceito de oásis seria, certamente, um conceito hipérbole. Certamente haverá cursos de água, de outro modo a vida no deserto não seria possível, mas toda aquela imagem de beleza paradisíaca… Certamente seria também… Ficção?

Foi com esta perspetiva que parti rumo ao Wadi Shab, quiçá o vale mais famoso do Omã. Para lá chegar, foi necessário atravessar um primeiro “rio” numa barqueta e depois caminhar aproximadamente 1 hora por terrenos irregulares, escalar pequenas encostas, avançar por caminhos mal sinalizados e enfrentar o sol tórrido do Inverno na Arábia. Para minha surpresa, parece que, afinal, a ficção se inspira na realidade, e a tal imagem de um oásis em todo o seu esplendor surge diante dos meus olhos.

Rodeado pelas escarpas do vale, nadei na água doce, rodeado de pampas e outras plantas típicas de pântano, de sapatilhas nos pés e atento a sinais de vida vindos da vegetação. De cada vez que a distância entre as paredes do vale se encurta, surge uma nova passagem secreta e um novo oásis para explorar.

Assim, durante 1 hora, nadei e caminhei para atravessar cada nova passagem, até chegar ao tesouro que se escondia no final da aventura – uma passagem secreta onde era necessário esgueirar-me por entre as paredes de uma gruta, atravessando a abertura mais estreita de todo o vale, para descobrir uma cascata escondida no seu interior.

É um dos locais mais turísticos do país, mas não é por isso que perde o seu star power. É, sem sombra de dúvida, material para um filme! E falando em filmagens, não tenho uma única foto ou vídeo a partir do momento em que me aventurei a nado, vale adentro. Foram 60 minutos de esforço físico, apenas a só com os meus pensamentos, distraído ocasionalmente pelas paisagens fantásticas e pelas cores berrantes de alguns insectos exóticos. Que maravilha!

Sur e a reserva de tartarugas de Ras Al Jinz

Uma costa interminável de águas em todos os tons de azul. Assim era Sur.

Quando me aproximo da cidade, vejo a paisagem salpicada por casas brancas, apontamentos de cor aqui e ali, palmeiras, e um farol a compor a pintura. Quis sentir a temperatura do mar. Pés descalços e aventurei-me. Não se vê vivalma. Só nós, as gaivotas e uma brisa muito necessária naquele dia escaldante.

A água é quente. Como no Mar Vermelho. Limpa, transparente, com uma ondulação delicada. Tenho a sensação de ver um cardume ali adiante. Levo as mãos ao fundo do mar e faço-as de peneira, deixo a água escorrer e fico com as palmas carregadas de tesouros – o fundo do mar é feito de conchas cor de rosa, cor de laranja, algumas vermelhas, brancas, esverdeadas, pequenas, pequeninas, microscópicas conchas em espiral, redondas, inteiras, partidas. Brilham como cristais. Contemplo, como se tivesse aberto uma arca do tesouro e nas mãos centenas de pedras preciosas.

Pareceu-me, a princípio, um enorme desperdício. Praias destas, e ninguém para as desfrutar. Paraísos assim, imaculados, puros, vazios. Nessa noite, saí para conhecer uma reserva de tartarugas. No Verão, centenas destes simpáticos animais percorrem as praias para deixar os seus ovos. Agora, fora de época, posso não ver nenhuma.

Mas Sur quis brindar-me com mais uma memória daquelas que tanto gosto, inesquecíveis. Guiado apenas pela luz das estrelas, percorro o areal aos tropeções atrás do guia. O grupo vai silencioso e entusiasmado. Vamos poder ver duas tartarugas.

A primeira escavou o areal, e acomoda-se confortavelmente. A segunda, tendo terminado o seu trabalho, segue de regresso ao mar. Aproximamo-nos gentilmente e ficamos a ver enquanto avança, passo a passo, até desaparecer por completo nas ondas. Quando ela mergulha na escuridão, já estamos tão perto que a água nos chega aos pés. E olhamos em volta para observar um dos fenómenos mais bonitos a que já assistimos. Como se as estrelas tivessem caído no mar, a água está repleta de pontos cintilantes. Autênticos diamantes a brilhar na água, que podemos tocar e ver de perto. É o plâncton, que serve também de guia para as tartarugas recém-nascidas, sinalizando para onde devem ir.

É um daqueles cenários inesperados que parecem fruto de uma invenção. E é impossível ficar indiferente. Depois desta experiência, mudei de ideias. Talvez seja bom que ninguém queira fazer praia por estas bandas. Porque há coisas bem mais importantes que tomar o areal com espreguiçadeiras e sombrinhas. E que privilégio poder ver a natureza em ação, em locais onde a influência do Homem ainda é gentil.

Há duas formas de ver a vida: como se a magia não existisse; ou como se tudo fosse magia. Hoje, é inegável que há magia.

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