Um dos piores pesadelos de um viajante. Fica a conhecer as estatísticas, os motivos, as formas de minimizar o risco e o que fazer quando a tua mala chega atrasada ou é irremediavelmente perdida pela companhia aérea.
Com a tecnologia atual, e num sítio com processos tão rígidos como um aeroporto, era de esperar que um objeto relativamente volumoso como uma mala fosse difícil de perder. Mas a verdade é que, com a escala da aviação moderna, certos erros são inevitáveis.
O aeroporto de Frankfurt, um dos maiores da Europa, dá-nos a conhecer algumas estatísticas bastante interessantes sobre as bagagens e mercadorias que por ai passam.
Num só dia, o aeroporto já chegou a movimentar 8.822 toneladas de bagagem, e isso nem sequer inclui mercadorias e correio aéreo. No total, o aeroporto lida com o equivalente a 43 baleias azuis de carga por dia.
Mas contemplar as maravilhas da aviação moderna serve de pouca consolação a quem, à chegada ao destino, se vê sem a sua bagagem.
Depois de te darmos a conhecer melhor os motivos pelos quais se perdem malas nos aeroportos, dá-mos te algumas dicas para reduzir este risco. Finalmente, explicamos-te o que fazer caso a tua mala chegue atrasada ao destino ou seja irremediavelmente perdida.
Para começar, vamos por as coisas em perspetiva. De acordo com o jornal britânico The Guardian, em 2022, perderam-se 7,6 malas por cada 1.000 passageiros.
A seguradora espanhola Mapfre garante que a maioria das malas acaba por ser encontrada. Podemos dizer por isso que o pior cenário, em que uma mala é perdida para sempre, é relativamente raro.
É importante também referir que o número de bagagens perdidas aumentou substancialmente após a pandemia, pelo que é normal que este fenómeno esteja um pouco mais presente nas noticias e na mente dos passageiros.
Isto foi mais um sintoma do choque que a pandemia criou no setor. Muitos aeroportos sofreram um aumento súbito nas viagens no período pós-pandemia, enquanto faziam face à perda de funcionários experientes que não voltaram à profissão depois do período pandémico.
No entanto, segundo a BBC, a situação dava já sinais de estar a retornar ao normal no verão de 2023.
Estes números podem dar algum descanso na hora de deixar a bagagem no balcão do check-in, mas servem de pouco alivio para quem tem o infortúnio de calhar no lado errado das estatísticas.
Há casos particularmente dramáticos. Já aqui falamos do Bluebell, o cão que viajava com a sua família de Londres para Nashville, nos Estados Unidos, mas acabou na Arábia Saudita.
Mas há outros exemplos de histórias particularmente infelizes no que toca a bagagens perdidas. Por exemplo, a viajante Saana Salih, ao chegar ao Dubai nas vésperas do seu casamento, apercebeu-se que a companhia aérea tinha perdido o seu vestido de casamento.
E o que dizer da passageira Emily Tuite, em viagem entre o Texas e a Califórnia, que à chegada ao seu destino descobriu que a companhia aérea tinha perdido a sua mala, onde se encontrava a sua perna protésica.
Quando fazes check-in a uma mala, a última coisa que vês é a pessoa atrás do balcão a colocar-lhe uma etiqueta e a despacha-la numa passadeira rolante.
Daqui, a tua mala segue para a zona de logística do aeroporto, onde é sujeita a controlos de segurança e depois separada de acordo com o destino. Dependendo do aeroporto, esta separação pode ser feita por humanos ou por robôs – ou em colaboração entre ambos.
Finalmente, as malas são colocadas a bordo do avião para seguirem juntamente com os seus donos para o destino. Se tudo correr bem, voltas a ver a tua mala na passadeira rolante da zona das chegadas.
“Se tudo correr bem” são as palavras-chave. Afinal, trata-se um processo bastante complexo que tem de dar vazão a milhares de malas por hora.
É logo no balcão de check-in que as coisas podem correr mal. Uma etiqueta mal impressa ou com informações erradas pode fazer com que a tua mala seja desviada para outro destino. Mais à frente, quer seja por erro humano ou da máquina, a mala pode acabar no carrinho errado, e, por conseguinte, no voo errado.
Mas o momento mais crítico para a perda de malas é talvez a troca de avião durante uma escala. Quando um voo chega a um aeroporto com muitas conexões, é normal que aí se encontrem passageiros que vão para destinos em vários países e continentes diferentes. As malas têm de ser por isso rapidamente descarregadas e direcionadas para o voo seguinte. Um pequeno deslize neste momento e a tua mala pode acabar do outro lado do mundo.
É sempre responsabilidade da companhia aérea tratar a tua bagagem com o cuidado necessário e garantir que esta não se perde.
Infelizmente, como já vimos, nem sempre é o caso. E é por isso que te deixamos aqui algumas ideias para melhorares as chances da tua mala ser encontrada e para reduzir os custos caso esta seja irremediavelmente perdida.
Quer sejam joias ou a tua camisa favorita, se um objeto tem um valor monetário ou emocional elevado, evita coloca-lo na mala de porão. É uma questão de reduzir as tuas perdas no pior cenário em que a tua bagagem nunca reaparece.
É bom lembrar que, mesmo quando as malas não são perdidas, o seu tratamento pode não ser o mais cuidado. Acondiciona qualquer objeto de vidro ou de outro material frágil de forma a aguentar choques.
Outra critério para escolher o que vai no porão e o que vai na cabine é a utilidade. Medicamentos, produtos de higiene básica e cosméticos de uso diário são exemplos de coisas que vão fazer muita falta assim que aterres, e que por isso é preferível manter junto a ti.
No caso das companhias perderem a bagagem, é sempre importante continuares a ter acesso a uma muda de roupa imediata.
Ter uma ideia precisa do que tens na tua mala pode ser bastante útil num cenário em que esta desaparece, quer seja para provar que a mala te pertence, ou, no pior cenário, para fazeres um pedido de compensação.
Se não queres estar a dar-te ao trabalho de escrever uma lista, basta tirares uma foto aos vários objetos enquanto estás a fazer a mala.
Se és daquelas pessoas que gosta da acumular etiquetas na mala como quem anda com as pulseiras de festivais de verão, este conselho é para ti.
Para evitar confusões, o melhor mesmo é retirar as etiquetas de viagens passadas, para que um funcionário (ou robô) não enviem a tua mala para o teu destino anterior.
Não é por acaso que muitas malas têm um local para escreveres o teu nome e morada. Estas informações vão ajudar a localizar e identificar a tua mala. Não te esqueças de incluir um contacto e uma morada para onde a tua mala possa ser enviada.
E porque não juntar um cartão semelhante no interior da mala, caso a etiqueta exterior seja danificada. Assim, vais ter sempre a certeza de que tens uma forma de prover que essa é mesmo a tua mala.
Outra forma de identificar a tua mala é um colocar autocolantes ou fitas. Não interessa se é um gatinho ou o símbolo do teu clube, ou até uma fitinha do Senhor do Bonfim.
Para começar, isto vai ajudar a que a tua mala se distinga na passadeira rolante e evitar que alguém a leve para casa por engano.
Para além disso, tira uma foto da tua mala. Se ela perder e acabar num armazém com centenas de outras malas de cor e formato semelhante, detalhes como estes, juntamente com uma foto, podem fazer a diferença para o funcionário que a for tentar encontrar.
Fazer check-in da tua bagagem muito em cima da hora de partida significa que a tua mala pode acabar por ficar em terra e seguir num voo posterior. Isto é meio caminho andado para atrasos e confusões.
Se tencionas levar bagagem de porão, chega mais cedo ao aeroporto para garantir que a tua mala segue viagem no mesmo avião que tu.
As tracker tags são pequenos dispositivos que difundem a sua localização e permitem assim localizar qualquer objeto a que estão acoplados, quer seja um porta-chaves ou uma mala.
Talvez o mais conhecido entre estes dispositivos seja o AirTag da Apple, já que este se conecta facilmente à app Buscar, que já permite aos utilizadores Apple encontrar periféricos como os AirPods. Porém, existem muitas outras opções de outras marcas.
Inicialmente, o uso tracker tags em malas de porão levantou alguma polémica. A Lufthansa chegou mesmo a afirmar que estes dispositivos não seriam permitidos, mas depois de uma avaliação do regulador aéreo alemão, a companhia voltou atrás nas suas declarações
Desde então, estes dispositivos popularizaram-se. Se despachas com frequência bagagem no porão ou se queres mesmo certificar-te que a tua bagagem não se perde, então esta é uma boa opção.
Se depois de uma longa espera junto ao tapete rolante a tua mala não aparece, a primeira coisa a fazer é reportar a situação. Ainda no aeroporto, dirigi-te aos agentes de bagagens da companhia aérea em que viajaste. Se não encontrares estes agentes, contacta diretamente a companhia por outro meio, antes de saíres do aeroporto.
Esta última parte é bastante importante: tal como recomenda a Rede Europeia de Centros do Consumidor, não deves esperar por chegar a casa ou ao hotel para informar a companhia aérea.
Se os agentes do aeroporto não conseguirem localizar a tua mala, o próximo passo é submeter um formulário de perda de bagagem. Aqui é importante referir o máximo número de detalhes possível, como a cor, marca, tamanho ou formato da mala.
Menciona também detalhes distintivos como autocolantes e não te esqueças de referir a etiqueta com os teus dados e apresentar uma cópia dos detalhes que aí podem ser encontrados. Este formulário é conhecido com Relatório sobre Irregularidades de Propriedade (PIR – na sigla relativa ao nome em inglês)
Ao mesmo tempo, podes perguntar à companhia aérea se existe alguma compensação imediata pela perda da bagagem. Algumas companhias têm kits de itens essenciais que são oferecidos nestes casos.
No caso de não seres residente no país de chegada, podes ter direito comprar artigos de primeira necessidade (roupa e artigos de higiene pessoal), de forma a substituir aqueles que estão na tua bagagem perdida. Verifica com o staff e no site da companhia se é o caso e, se existe limite diário para essas despesas (algumas companhias tem). Se for o caso, não te esqueças de guardar o recibo de todas as compras que fizeste neste contexto, pois precisarás deles para apresentar a reclamação no site da companhia.
Se tiveres seguro de viagem que cubra perda de bagagem, entra em contacto com a seguradora
Esta compensação vai depender dos termos e condições que aceitaste ao comprar o voo – sim, aquelas letras pequenas que ninguém lê. Mas há também compensações que resultam de leis e convenções – continua a ler para saber mais!
No caso das tuas malas terem sido entregues com atraso ou terem sido definitivamente perdidas, podes ter direito a uma compensação de até 1.300 euros.
Leitura sugerida: Voo atrasado ou cancelado? Vê aqui quais são os teus direitos ✈️
O valor final é calculado com base nos itens que levavas contigo e com os gastos adicionais que tiveste por não receber a mala atempadamente.
Se transportavas objetos com um valor total superior a esses 1.300 euros e estes foram perdidos ou destruídos, infelizmente esse valor não será compensado, a menos que tenhas , por exemplo, um seguro de viagem com uma cobertura superior.
Este é um direito estabelecido pelas Convenções de Varsóvia e de Montreal, e não depende dos termos e condições da companhia aérea.
Se a tua mala te foi entregue com atraso, tens até 21 dias após te ser entregue a mala para reclamar qualquer compensação.
A tua mala é dada como definitivamente perdida 21 dias após a tua chegada ao destino (ou no momento em que a companhia aérea admite expressamente a perda).
Para teres direito à compensação, deves apresentar o teu pedido à companhia aérea no prazo de sete dias após a mala ser dada como definitivamente perdida.
Qualquer que seja o caso, o pedido de compensação é feita por escrito, diretamente à companhia aérea. Lembra-te de guardar prova desse envio!
O pedido de compensação deve incluir uma descrição detalhada dos factos, incluído as datas de viagem e os passos que tomaste para recuperar a bagagem. Deves ainda anexar cópias dos seguintes documentos:
– Relatório sobre Irregularidades de Propriedade;
– Bilhete e cartão de embarque;
– Lista detalhada do conteúdo da mala, atribuindo um valor a cada item;
– Recibos das despesas feitas em consequência da perda da mala.
Perda de bagagem na Air France
Perda de bagagem na American Airlines
Perda de bagagem na British Airways
Perda de bagagem na Brussels Airlines
Perda de bagagem na Delta Airlines
Perda de bagagem na Qatar Airways
Perda de bagagem na SATA – Air Azores
Perda de bagagem na Turkish Airlines
Perda de bagagem na United Airlines
Caso a resposta da companhia aérea seja insatisfatória, tens até dois anos para levar a cabo uma ação judicial contra a empresa. Aqui, podes tentar obter a ajuda dos Centros de Arbitragem de Conflitos de Consumo.
E assim terminamos o nosso artigo sobre a perda de bagagens. Desejamos que nunca tenhas de passar por esta situação, mas esperamos que, a acontecer, possas pelo menos recuperar parte das tuas perdas com a ajuda das nossas dicas!
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