Que esperança para o resto de nós, Anthony? 🇻🇳

  • 11.04.2025 14:55
  • Bruno A.

Na mais recente edição das suas crónicas, o nosso editor percorre as ruas de Hanói e leva-nos ao restaurante onde Anthony Bourdain partilhou uma refeição com o então Presidente dos EUA, Barack Obama. Uma introspecção sobre um dos grandes viajantes contemporâneos e a sua trágica morte.

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“I took a walk in this beautiful world, felt the cool rain on my shoulder.
Found something good in this beautiful world, I felt the rain getting colder.”
Parts Unknown, Josh Homme & Mark Lanegan (2013)

À semelhança de tantos outros com gosto pelas viagens, também eu sou um enorme fã de Anthony Bourdain. Não daqueles que sabiam tudo sobre a sua vida, frequentavam os seus restaurantes, liam todos os seus livros e assistiam religiosamente a cada episódio televisivo que protagonizasse, mas era impossível não sentir algum tipo de admiração pelo homem, pelo escritor, pelo chef, pelo apresentador e – acima de tudo – pelo viajante.

Uma personalidade consensual, como vai sendo cada vez mais difícil de encontrar nos tempos que correm, Bourdain celebrizou aquele seu estilo “cool” e descomplexado, de quem tem 1000 ideias e reflexões a fervilhar por detrás da fachada de uma figura que parece estar-se mais ou menos nas tintas para o que o rodeia. Um homem que almoçava com Reis e Rainhas no melhor restaurante de NYC, e jantava num qualquer beco aleatório de Yangon. Um camaleão social, capaz de se adaptar a qualquer tipo de cenário, conversa e gastronomia.

Para além do fascínio quase magnético da sua figura, Bourdain vivia aquilo que – para muitos – era uma verdadeira vida de sonho. Ser pago (e admirado) para fazer programas televisivos a viajar pelos 4 cantos do globo e a comer alguma da melhor comida do mundo… que mais pode o Homem querer? De resto, esta foi (e continua a ser) uma retórica bastante utilizada por aqueles que, tal como eu, assistiram incrédulos às notícias que davam conta que Bourdain se havia enforcado naquela fatídica manhã de Junho de 2018, na solidão de um quarto de hotel em Kaysersberg, na Alsácia. Afinal, se Bourdain não era feliz, que esperança há para o resto de nós, comuns mortais?

A conclusão pode parecer simples, mas na verdade é só simplista. Chamo-lhe o populismo da alma. Estávamos todos tão focados no trabalho de Bourdain, que se tornou demasiado fácil esquecer o homem escondido sob o apresentador, autor, chef e escritor. Afinal, se alguém é admirado mundialmente e vive uma carreira/vida de sonho, que razões existem para ser devorado por tão grande e pesada sombra? O que fazemos pode ser importante e ajudar a definir a nossa personalidade, mas não é (só) o que somos – mesmo que sejamos idolatrados por isso. Da mesma maneira que Emma Stone não é só uma actriz, Bernie Sanders não é só um político, Rui Tavares não é só um historiador ou Isobel Yeung não é só uma jornalista. Tudo personagens de que sou fã, mas de cuja vida privada (e bem) pouco ou nada sei. No entanto, e a título pessoal, Bourdain toca-me.

Lembro-me dele enquanto exploro Hanoi, a capital Vietnamita e – muito provavelmente – o setting do episódio mais famoso e viral que alguma vez gravou. Foi aqui, no Hương Liên, um tasco de vão de escada para o qual a maioria de nós não olharia dias vezes, que o famoso viajante partilhou uma refeição com Barack Obama, na altura Presidente dos EUA. Naturalmente, o restaurante faz questão de promover a visita de tão ilustres convidados. No cardápio, podes escolher o Menu Obama; nas paredes, vários retratos e fotografias do antigo “homem mais poderoso do mundo”; e, meio escondida no 2o ou 3o piso, fizeram até questão de proteger e encaixilhar a mesa e bancos onde os 2 partilharam a agora célebre refeição.

Apesar da popularidade que o formato lhe trouxe, é bom ver que o restaurante não se vendeu por completo aos interesses do turismo, continuando a vender pratos locais a preços que oscilam entre os 2€ e os 3€. Dá ainda para perceber que Obama é claramente a personagem principal de todas as fotos e materiais, mas estou apenas focado em Bourdain. Pode soar ridículo dizer uma coisa destas acerca de um restaurante, mas estou extremamente fascinado por estar neste lugar, a comer este prato de Bun Cha e a olhar para as mesmas paredes em azulejo e balcões em inox que reconheço daquele episódio de Parts Unknown. Não é propriamente uma sensação feliz, mas antes uma espécie de nostalgia de algo que nunca vivi e saudade de alguém que nunca conheci. Agridoce, é a palavra que procuro.

À medida que aprecio o cenário, sou automaticamente transportado para aquela tarde de Outubro de 2021, a bordo de um comboio Georgiano entre Kutaisi e Batumi. Para ajudar a passar o tempo, estava a ler os diários de bordo de Bourdain, publicados postumamente no site de um dos seus programas televisivos. São textos curtos e que não seguem uma linha editorial específica, assemelhando-se mais a pensamentos soltos sobre factos históricos e culturais dos sítios por onde passou. Devoro cada trecho, tirando alguns minutos para assimilar as suas palavras antes de passar ao destino seguinte. “Como é possível este gajo ter metido uma corda ao pescoço?” – lembro-me de pensar, num misto de incredulidade e tristeza. Na altura trabalhava como intérprete telefónico de Português-Inglês, mas a caneta pedia outras andanças. Estou de tal modo fascinado e inspirado, que decido – ali mesmo – que um dia irei mudar de vida. Abro o calendário e coloco um lembrete para a data do meu 30° aniversário, mais de 2 anos mais tarde: “Está na hora de tentares ser Escritor de Viagens”.

Quase 4 anos volvidos, e não sei se me descreveria como tal… pelo menos não no sentido romântico do termo. Mas sou pago para escrever sobre viagens e, entre outras coisas, produzir crónicas como esta enquanto viajo pelo mundo. Não sei o quanto a carreira e palavras de Bourdain influenciaram este percurso, mas sei que as sementes estão lá. Sou feliz, porra. Como nunca fui, no plano profissional e pessoal. E não consigo pensar em melhor tributo que lhe possa prestar.

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