Atenção: Este artigo pode ser confuso para quem acredita que a terra é plana.
Todos temos uma imagem mental do mapa-mundo bastante semelhante à imagem abaixo. Um pouco por todo o lado, de ilustrações a mapas estatísticos, é assim que se representam os continentes e oceanos na maior parte dos casos.
Mas – tal como já sabiam os gregos antigos, a Terra é redonda. Para ser mais preciso, a Terra é uma esfera – se bem que um pouco achatada. Basta pegar numa folha A4 e tentar transformá-la numa esfera para perceber que não é possível representar a superfície da Terra numa imagem retangular.
Apresentar o mundo numa imagem retangular pode ser prático, mas está longe de ser realístico. A maior consequência deste compromisso entre a realidade e a folha de papel é que a nossa noção das distâncias entre países e continentes é distorcida.
Em distâncias relativamente pequenas esta distorção pode não parecer tão relevante, mas em distâncias maiores, como no caso das rotas dos aviões, estas tornam-se bem notórias.
Comecemos por entender como é que o mapa-mundo distorce ao certo a nossa noção da realidade:
Às diferentes formas de representar o globo terrestre no papel chamam-se projeções. Existem muitas projeções diferentes, mas de longe a mais reconhecível é a Mercator, concebida pelo cartógrafo Gerardus Mercator, em 1569.
Apesar de servir o propósito de indicar onde ficam os diferentes países e pontos geográficos, esta projeção distorce bastante a nossa noção do tamanho dos continentes.
Quando mais longe do equador, mais inflacionado é o tamanho de um país ou região. Por exemplo, nesta projeção a Gronelândia parece ter o mesmo tamanho que África, mas na verdade, a ilha gelada é 14 vezes mais pequena que o continente africano, e nem sequer é maior do que o maior país do continente, a Argélia.
Para ajudar a melhorar a nossa noção do tamanho relativo dos países, o site “The True Size” (o tamanho real) permite-te escolher um país e arrastá-lo sobre um mapa-mundo que utiliza a projeção Mercator, para assim poderes comparar com outros países ou regiões.
Há outras projeções que tentam ultrapassar as distorções da Mercator. Uma projeção que talvez já tenhas visto sem te aperceberes é a projeção polar azimutal equidistante.
Este é um nome complicado para dizer que o centro do mapa é um dos polos e que se dois pontos no mapa estiverem à mesma distância do centro do mapa também estão à mesma distância na realidade.
Mas então onde é que já poderás ter visto esta projeção? Na bandeira das Nações Unidas é justamente assim que se representa o mundo, com o polo norte ao centro.
Já que estamos a falar de ideias pré-concebidas sobre a Terra, podemos também comentar outras distorções causadas pela forma como esta é representada.
Talvez isto te dê a volta a cabeça, mas, de um ponto de vista astronómico, não há grande motivos para o polo norte estar no topo do mapa. Ao longo da história, várias foram os mapas que colocaram o sul, e até o este ou oeste, no topo. A decisão dependia de fatores políticos, religiosos e culturais.
Hoje em dia, a ideia de que o norte “está em cima” é tão enraizada que as fotos tiradas da Terra a partir do espaço são ajustadas antes da publicação para se conformarem com esta ideia.
Também o facto da Europa aparecer no centro do mapa não tem outra razão que não cultural e política.
Os mapas que vemos habitualmente estão centrados no meridiano de Greenwich, uma linha imaginária (ênfase em imaginária) que vai de polo a polo. Esta linha foi desenhada pelo Real Observatório de Greenwich em 1721, em Londres, que escolheu exatamente a sua sede como referência para a linha imaginária – conveniente, não?!
Para além de servir de referência aos mapas-mundo, o meridiano de Greenwich é também usado para definir os fusos horários. No lado contrário do globo podes encontrar a linha internacional de mudança de data, de que já falamos no nosso artigo “sobre viajar no tempo”.
Mas esta forma de representar o mundo não é universal. Na China, muitos dos mapas-mundo põe a China e o oceano Pacífico no centro do mapa, deixando a Europa para o canto e Portugal bem espremido.
Agora que já temos uma melhor ideia do nosso mundo, vamos entender melhor porque é que as rotas seguidas pelos aviões são curvas.
Atualmente, o voo mais longo do mundo liga Singapura a Nova Iorque. Percorrendo mais de 15,000 quilómetros, este é o exemplo perfeito para entendermos a forma como a projeção Mercator nos pode enganar.
Repara na imagem abaixo:
Traçando uma linha reta entre Singapura e Nova Iorque, o lógico seria que o avião seguisse primeiro sobre o Índico, depois pelo Norte de África, finalmente atravessando o Atlântico para chegar à costa Americana.
Mas a rota mais curta que este voo pode seguir é a da linha azul que passa sobre a China e Rússia, chega ao Ártico, e sobrevoa o Canadá de norte a sul antes de entrar nos Estados Unidos. Na projeção Mercator esta rota parece não fazer sentido nenhum.
Sabes onde é que esta rota faz sentido? No mapa que já mencionamos, e que aparece na bandeira das Nações Unidas. Vê como a linha azul é bem mais curta do que a linha vermelha quando projetamos a rota Singapura – Nova Iorque sobre este mapa.
Olhar para esta rota na esfera terrestre também ajuda a perceber o quão mais fácil é voar através do Polo Norte para chegar a Nova Iorque. Existe até um nome para a linha mais curta que une dois pontos numa esfera: a ortodromia. Vai sair no teste!
Crédito: Google Maps
Já falamos no nosso site da razão pela qual as rotas comerciais evitam sobrevoar o Tibete, mesmo quando esta seria a opção mais curta.
Os motivos pelos quais as rotas de avião evitam uma certa zona são vários. Estes podem ter a ver com conflitos que põe em risco o espaço aéreo, ou manobras geopolíticas em que um país veda o seu espaço aérea a aviões de outros países.
Também há motivos menos bélicos, como a ausência de locais para aterragens de emergência. Um excesso de tráfego aéreo numa determinada zona, ou fatores ocasionais como greves de controladores aéreos também se contam entras a razões que desvia as rotas do caminho mais curto.
Por outro lado, também há zonas que atraem mais tráfego aéreo, mesmo quando existem rotas mais curtas. Por exemplo, certas rotas são desenhadas para aproveitar as correntes de jato, fortes ventos atmosféricos que diminuem o tempo de viagem e fazem poupar no combustível.
Estes ventos mudam com as estações, o que significa que as rotas dos aviões são dinâmicas.
Voltando ao exemplo da rota entre Singapura e Nova Iorque, também esta rota nem sempre segue a ortodromia – ou a linha mais curta entre as duas cidades.
Quando a Singapore Airlines relançou a rota em Junho de 2023, as três primeiras viagens de Singapura para Nova Iorque seguiram pelo Japão, Alasca e Canadá para aproveitar as fortes correntes de ar na atmosfera.
Crédito: Flightradar24
Apesar desta rota ser por volta de 1.000 quilómetros mais longa do que a ortodromia que liga Singapura e Nova Iorque, os ventos fortes reduziram o tempo total de viagem em mais de uma hora.
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