Al Ula, a menina-bonita do turismo Saudita 🇸🇦

  • 28.01.2023 20:30
  • Bruno A.

Assim que bateram as primeiras folgas na Arábia Saudita, prontamente o nosso editor se fez à estrada para visitar Al Ula, considerada o epicentro do “novoturismo” saudita. Uma cidade de locais históricos e de um cenário natural difícil de igualar. No fim, para além de maravilhado, sai com a certeza de que o investimento do país no sector turístico é para levar muito a sério. A concorrência que se cuide!

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É difícil prever onde estará a Arábia Saudita dentro de meia dúzia de anos. Se o plano passa por transformar o país num dos maiores destinos turísticos do planeta, a cada dia que aqui passo torna-se mais fácil perceber que, estruturalmente, há ainda um longo caminho a percorrer.

O centro histórico de Jeddah, por exemplo, é um local lindíssimo, com um estilo extremamente diferente de qualquer outro que tenha visto fora da Arábia Saudita, mesmo entre os seus vizinhos árabes. No entanto, a maioria dos edifícios antigos está ao completo abandono, com as janelas tapadas por tijolos e contraplacado, e com as fundações em sério risco de derrocada.

Se o centro histórico da segunda maior cidade do país está neste estado, o que esperar do restante património turístico Saudita? Foi com esta pergunta em mente que me fiz à estrada e percorri mais de 700km até chegar a Al Ula, a terra mais turística do país.

Uma amostra do futuro

O que encontrei, confesso, foi surpreendente, e um microcosmo perfeito do que será o turismo saudita num futuro próximo. Afinal, construir um projecto turístico de raiz com fundos praticamente ilimitados é um luxo a que, acredito, nenhum outro país do mundo se pode dar!

Embora os edifícios em adobe da cidade velha continuem ainda a ser remodelados, é fácil perceber que tudo aqui foi pensado ao pormenor. Veículos eléctricos para transportarem gratuitamente os turistas dentro da cidade, presença forte de autoridades nas vias mais movimentadas para ajudarem a organizar o trânsito, quarteirões inteiros construídos do nada para albergar praças de alimentação e barracas de street food, e até restaurantes de fine-dining montados por chefes estrangeiros com estrelas Michelin – uma máquina extremamente bem oleada, a contrastar com o que ainda se vê noutros pontos do gigantesco país. Há uma sensação de urgência em que tudo seja desenvolvido depressa e bem, perceptível através das simpáticas senhoras que se passeiam pelo centro fazendo inquéritos de satisfação aos turistas estrangeiros. Ah, isso também… aqui é fácil encontrar outros turísticas estrangeiros!

Por outro lado, é um local bastante caro, com poucas opções de alojamento que podem facilmente chegar aos 100€/noite por um quarto a 20km do centro histórico (sem dúvida um ponto de melhoria para o inquérito das tais senhoras). Essa é, aliás, outra nuance do projecto de turismo Saudita. O governo está claramente interessado em atrair turismo… mas não qualquer tipo de turista! Embora ainda seja cedo para tirar conclusões, a Arábia Saudita não me parece claramente que vá ser orientada para mochileiros, preferindo um tipo de turista com outro tipo de estabilidade económica. A título pessoal, isso é bastante notório nos restaurantes, onde podes facilmente pagar 25€-30€ por um prato de comida. A solução? Centros comerciais e o icónico Al Baik – o McDonald’s cá do sítio, e que muitas vezes me tem safado durante os passeios nas folgas.

Para além disso, e pelo menos em Al Ula, praticamente tudo o que queiras fazer requer a compra de um bilhete. Com duas ou três notáveis excepções, tudo o resto é pago… e bem pago! Porém, e nisso os Sauditas são notáveis, há um sentido de valor-acrescentado bastante elevado. Passo a explicar: para entrares em Petra, na Jordânia (e já perceberemos porque é que é comparável), tens que desembolsar qualquer coisa como 65€. Em Al Ula, para visitares os três principais pontos turísticos da cidade, pagarás no total pouco mais de 55€. Em ambos os casos, o dia sai caro. Porém, em Petra és deixado à tua sorte e tudo o resto que queiras fazer terá que ser pago separadamente. No caso de Al Ula, és acompanhado de um guia, transportado entre os vários pontos num autocarro climatizado e, no início de cada tour, as boas-vindas são sempre dadas com sumo natural de laranja/romã, água e uns docinhos. Para além disso, no final podes sempre participar em algum workshop relacionado com a visita e ainda tomar um café árabe ou chá.

Se isto compensa o valor avultado pago? Bem, pessoalmente preferia pagar metade e prescindir destas pequenas mordomias. Contudo, e na impossibilidade de pagar um valor reduzido, é sempre melhor ser bem tratado do que levar um chuto no cu para que o próximo turista possa ser atendido rapidamente! Todos os tours devem ser reservados com antecedência através do site oficial Experience Al Ula. Sem tour marcado, o mais provável é que já não existam vagas disponíveis se os tentares comprar em pessoa nas bilheteiras.

Mas afinal, o que tem Al Ula de tão especial?

Antes de mais, convém desde já esclarecer que Al Ula é 100% merecedora de todo o hype que recebe (pelo menos entre a malta que gosta de destinos mais arrojados).

Para começar, haverá poucas cidades com um cenário tão bonito, situada nas margens de um oásis e sob a sombra de uns precipícios vermelhos inacreditáveis. Historicamente, Al Ula era uma das localidades mais importantes situadas ao longo da Rota do Incenso, uma rota comercial lendária que ligava os portos do Mediterrâneo e o Corno de África à Índia através da Península Arábica.

Aqui desenvolveram-se vários impérios árabes pré-islâmicos, sendo que cada um acabou por deixar a sua marca. O mais memorável deles todos? Os Nabateus, o mesmo povo que construiu Petra como capital e que tinha aqui, em Al Ula, a segunda cidade mais importante do seu território (e igualmente impactante).

Assim, e após uma passagem de um dia e meio em Al Ula, estão são os locais que recomendo visitar:

Hegra

O ponto que verdadeiramente colocou Al Ula no mapa e o primeiro local da Arábia Saudita a ser considerado Património da Humanidade pela UNESCO.

Se nas fotos já parece impressionante, garanto que na primeira-pessoa é ainda mais espectacular. Faz lembrar Petra, certo? Não é coincidência, pois esta é a tal cidade concebida pelos Nabateus, e, à semelhança da capital do império, todos os edifícios eram directamente esculpidos na rocha, uma especialidade deste povo. Diz-nos o nosso guia que os tipos conseguiam terminar cada obra destas em apenas 6 meses. Com o material que havia há 2000 anos atrás!

O tour de Hegra tem o custo de 23€/pax e leva-te a conhecer 4 pontos distintos deste enorme complexo. Quase todos são túmulos de antigos governadores, famílias proeminentes ou líderes militares. Embora não tenha a quantidade ou diversidade de Petra, Hegra é um sítio absolutamente fascinante!

Cidade Velha de Al Ula

Apenas uma pequena parte da Cidade Velha de Al Ula já foi remodelada. Transformada numa estrada de terra batida flanqueada por edifícios típicos, lojinhas e restaurantes, a Estrada do Incenso é o epicentro do lado histórico da cidade.

Curiosamente, o resto do centro está a sofrer remodelações profundas. É bastante peculiar. As casinhas são todas feitas em adobe e parecem abandonadas há séculos, mas a realidade é que muitos nativos viveram neste tipo de construções até à década de 80 do século passado. O tour da Old Town custa 17€ e leva-te ainda a subir ao Castelo de Al Ula, onde podes ter uma melhor percepção da dimensão da cidade histórica. A Rua do Incenso é o único ponto da Cidade Velha onde podes entrar gratuitamente.

Oasis Heritage Trail

Uma das minhas actividades favoritas em Al Ula e, coincidentemente, um dos poucos locais que podes visitar de forma gratuita!

O nome é autoexplicativo, sendo este um percurso delimitado pelo meio do Oásis de Al Ula. O caminho liga o quarteirão de AlJadidah a Dadan e tem a extensão de cerca de 3 km, que te levará a atravessar ruínas em adobe de muralhas, casas e mesquitas históricas.

É o tipo de sítio onde não consegues dar uma porcaria de um passo sem ter que tirar “só mais uma foto”. Pudera… com as palmeiras, as ruínas e os precipícios vermelhos constantemente no enquadramento, fica difícil resistir para qualquer turista que goste de fotografia.

AlJadidah

Não há muito a dizer. Este é o tal quarteirão que foi construído para receber food trucks, restaurantes improvisados e para dinamizar um pouco mais a área em redor da Old Town.

Ficámos surpreendidos por estar deserta durante o dia, tendo em conta que tínhamos visto bastantes turistas noutras zonas da cidade. No entanto, este é o tipo de sítio que ganha vida ao pôr-do-sol, quando toda a gente regressa à base depois dos tours e os negócios finalmente abrem portas. Um bom sítio para um café ou um docinho a seguir ao jantar (isto é, se não te parar a digestão por teres que pagar 3€ ou 4€ por um expresso).

Dadan

Ao passo que Hegra foi erigida pelos Nabateus, Dadan é ainda mais antiga e foi partilhada por dois impérios árabes que controlavam esta secção específica da Rota do Incenso: os Dadanitas e os Lequienos. Aliás, algumas fontes indicam que estes dois nomes diziam na realidade respeito ao mesmo império, mas a realidade é que não há forma de o confirmar!

De qualquer das formas, Dadan era a sua cidade, e é possível vislumbrar à distância as casas e túmulos que os locais também tinham o hábito de esculpir nos precipícios. No entanto, Dadan é provavelmente o local menos impressionante dos que visitámos em Al Ula, acima de tudo porque 95% (!!!) da cidade ainda está por escavar, um esforço que será completado até 2025/2026. Quando terminado, não tenho dúvidas de que será tão ou mais impressionante que Hegra. Para começar, está já planeado um museu ultramoderno dentro do recinto de Dadan onde serão expostas todas as peças que foram/sejam encontradas no decorrer dos trabalhos.

O tour de Dadan custa 15€ e é na realidade uma visita conjunta com o próximo ponto da minha lista. Não fosse por isso, e recomendaria passar Dadan à frente até que as escavações estejam adiantadas e haja mais para ver.

Jabal Ikmah

Considerada a segunda parte do tour de Dadan, Jabal Ikmah é um sítio bastante especial. Bem antes do advento do Islão, já esta montanha era um lugar de culto religioso. É impossível saber com rigor o que se venerava ao certo, mas provavelmente algum tipo de divindade ligada à natureza.

Por essa razão, peregrinos de cidades vizinhas vinham até este lugar, sendo que os próprios comerciantes que atravessavam a Rota do Incenso eram trazidos até aqui pelos locais, numa espécie de técnica invertida de conversão porta-a-porta. Como resultado, começou a estabelecer-se a prática de que cada visitante começasse a cravar mensagens nas rochas. A maioria dela são bastante simples, do tipo: “O Gervásio, de Gondomar, esteve aqui”. No fundo, é uma versão milenar do bom velho “Ana + Paulo 4Ever” que tantas vezes vimos ao crescer!

Brincadeiras à parte, Jabal Ikmah é extremamente importante no que à linguística e ao próprio desenvolvimento da língua local diz respeito. Afinal, e para além de vários dialectos pré-árabes, é possível encontrar aqui inscrições em latim e até grego antigo, bem como outras línguas mortas e indecifráveis trazidas por comerciantes de todo o mundo!

Miradouro de Herraz

Finalmente, e antes da longa viagem de regresso a Jeddah, dei a minha aventura em Al Ula por terminada com uma subida ao Miradouro de Herraz. Este é outro ponto gratuito, mas impossível de aceder sem carro. Para lá chegar, é necessário subir uma encosta extremamente inclinada e ainda conduzir uns bons 10km a direito no topo de um promontório. Sinceramente, ainda tenho dificuldade em perceber como (e porquê) alcatroaram esta zona. Se foi apenas a pensar na chegada dos futuros turistas, chapeau!

No entanto, e para ter acesso a vistas panorâmicas destas, vale bem a pena o esforço.

O Veredicto

Embora já estivesse à espera do local mais espectacular de toda a Arábia Saudita, Al Ula conseguiu dobrar a aposta e revelar-se ainda mais impressionante que o expectável.

Isto são excelentes notícias para o ambicioso plano turístico Saudita. Afinal, se o projecto do país passa por replicar o modelo de Al Ula em vários pontos do seu território, não restam dúvidas de que, se bem-sucedido, a Arábia Saudita passará a figurar nos roteiros de muito bom turista por esse mundo fora.

O conceito e a capacidade de investimento estão lá. Resta saber se os turistas chegarão.

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